Taciturno
Cristian chegou em casa mais cedo. Chovia muito naquela tarde de setembro. Mesmo com tanta chuva, sua dor voltava ao chegar em casa. Abriu a porta do apartamento. Tudo estava lá. O nada estava lá. A penumbra do entardecer golpeava sua memória. Cada chegada era um calvário.
Entrou. Tirou os sapatos. Despiu-se antes de abrir janelas e cortinas. Olhou mais uma vez os porta-retratos. As fotos tristemente devolviam-lhe a dor da lembrança e da saudade. Era a mais torpe vaidade da saudade que o afetava. As fotos sem sons emitiam lembranças como golpes na realidade dele. Pobre homem. Ficara só outra vez.
Seu olhar sem qualquer esperança fugia pela janela e olhava para a mata ao longe. Estava mais uma vez só. Sua saliva era alterada pelo medo do vazio. A umidade trilhava seu rosto com aquelas lágrimas. Ali mesmo sorvia partes das próprias lágrimas como um aperitivo do vazio. Saudade e dor. Vazio. Penumbra.
Como um vulto tenebroso encolheu-se no canto da sala. No escuro sentiu as sombras e a penumbra do anoitecer abraçarem.
Encolhido caiu. Foi nocauteado pela Solidão em meio a escuridão.
Dor. Angústia. Silêncio.