Conto - 09 Jesus Cristo

Conto 09 - Jesus Cristo

“ Atropelem as freiras

Arrastem seu corpos pela estrada

Pois elas estão peregrinando

Em nome da mentira

Hoje é o dia do novo AEON

Louvem o verdadeiro Deus, o Portador da Luz.”

No crepúsculo dos tempos, quando a esperança da humanidade estava à beira do colapso, um evento transcendental se desdobrou nos céus.

Era a vinda de Jesus Cristo, não como um messias glorioso tal como diziam bíblias e igrejas. Mas sim, como um eco silencioso do sofrimento humano.

Sua pele negra e boca carnuda, cabelos crespos, e corpo curvilíneo, seios fartos e olhos gentis. Ela não vinha em um cavalo branco de triunfo, mas em um cenário de humildade.

Seus olhos, profundos refletiam o universo. Ela não veio para julgar, mas para entender. Entender como os homens transformaram suas palavras de amor, naquilo que eles chamam de Catolicismo.

Como estes homens são capazes de defender uma instituição que deliberadamente estupra crianças.

Como? Cristo dizia em pensamento

Com lágrima em seus olhos.

Multidões o cercavam, com olhares de nojo. Os cristãos buscavam Jesus Cristo, não esta mulher negra que caminhava pelas ruas.

- Se és mesmo Cristo, então mostre suas mãos!

Gritavam os cristãos

- Se é mesmo Cristo, por que se veste como uma puta?

- Por que sua pele é tão suja? Deves ser o Diabo!

Gritavam os fies!

Mas cristo falava em parábolas, entrelaçando verdades universais.

Em suas palavras, havia uma melancolia profunda, como se ele compreendesse, que os cristãos. Eram os mesmos apedeutas, que o crucificaram.

A culminação deste fardo, transformou a brutalidade, em redenção. Então Cristo, decidiu matar todos eles!

Sua vinda foi uma ode à condição humana, um lembrete de que; Os crucifixos, as bíblias, as igrejas e catedrais, as freiras e os cristãos.

É tudo aquilo que ele não foi, é tudo aquilo que o crucificou.

E após caminhar descalço sobre o sangue cristão, já sem esperança de que encontraria em algum lugar o verdadeiro amor.

Uma travesti negra acenava ao longe

Só então, Cristo sorriu, percebendo que ainda existia amor no mundo em que ele e seu pai criou.

- Gerson De Rodrigues in Contos & Goétia