ILHA GRANDE - ANGRA DOS REIS - ESTADO DO RIO DE JANEIRO


 

OS MISTÉRIOS DE JORGE GREGO

 

Diz a lenda que Jorge Grego foi um pirata que, quando navegava em direção do Estreito de Magalhães, percebeu estar sendo perseguido pelas naus da armada inglesa.

Quando foi atacado, e sem tempo para alcançar a maior ilha da região (Ilha Grande), abandonou seu navio pirata já em pedaços e, em um bote, junto de suas duas filhas e de um jovem aprendiz de pirata, desembarcar numa ilhota que ficava por de trás da ilha maior. Desse modo, teria alguma chance de passar despercebido pela armada inglesa.

Na fuga, Jorge Grego teria levado consigo, também, três grandes sacas de moedas de ouro e um baú contendo joias cravejadas de brilhantes. Certo de que a armada inglesa viria à sua procura, logo que desembarcou, escondeu toda a carga roubada, enterrando-a em lugar bem protegido.

Ao contrário do que imaginou o pirata, a armada inglesa, ao observar o afundamento do navio em chamas, seu comandante deu como terminada a caçada ao pirata. Além de saquear embarcações de outras nacionalidades, o pirata também roubava os valiosos carregamentos dos navios da imponente coroa inglesa. Assim, foram comemorar a vingança, ancorando seus navios na ilha maior, na linda baía de Ilha Grande.

A ilha em que os náufragos desembarcaram era minúscula, com cerca de um quilômetro quadrado; entretanto, havia ali um dos mais ricos ecossistemas da costa brasileira. Por lá, encontravam-se atobás, lagartos gigantes, corais, e uma infinita variedade de peixes e crustáceos. Sem contar com a beleza graciosa dos golfinhos e tartarugas que, desde aquele tempo, atrai turistas e mergulhadores do mundo inteiro. O mistério e as belezas que cercam esse pedacinho da Ilha Grande fazem da ilha de Jorge Grego um lugar impressionante.

Uma vez, certificado de ter escondido o produto do roubo, Jorge caminhou com suas filhas ainda pequenas e o jovem marujo, à procura de um lugar mais seguro, de modo a se esconderem dos seus perseguidores. Na procura, entraram por uma fenda no meio da mata abundante e densa. Já dentro da fenda, e se aprofundando nela, avistaram uma nascente de águas cristalinas, reconhecendo o pirata que aquele seria o lugar ideal, para que ficassem por alguns dias até que a armada inimiga retornasse à Inglaterra.

Cinco dias depois, Jorge ordenou que o seu único marujo saísse da fenda para certificar-se da ausência de marinheiros ingleses na ilha ou no mar dos arredores. O marujo levou quase o dia inteiro para retornar ao abrigo. Ao retornar, afirmou que nenhum navio fora avistado até onde as suas vistas puderam alcançar.

A ilhota ficava em frente ao mar alto e, em tempos de tempestades, fazia com que o pirata procurasse abrigo nas suas partes mais altas. Embora a flora e a fauna fossem abundantes, Jorge fez algumas tentativas de chegar à ilha Grande. Entretanto, o bote não oferecia a segurança necessária para enfrentar aquele mar turbulento com ondas de quase dois metros em tempos normais. Assim, foram vivendo dos peixes, de algumas aves nativas e de frutas que na ilhota encontravam em abundância.

Certa vez, sua filha mais velha estava pescando quando fora arrastada por uma onda enorme, que a levou mar adentro sem que nunca mais seu pai tivesse notícia. Jorge era um pirata experiente acostumado a viver nas adversidades e foi ensinando a sua outra filha, juntamente ao marujo, como deveriam se proteger de outros piratas. Acreditava que, em algum momento, pudessem avistar algum navio de bandeira grega e nele deixasse a ilha com sua filha, o rapaz e o tesouro, que ainda permanecia escondido.

Os anos se passavam e os navios não vinham. Os jovens cresceram e se apaixonaram, mas tudo muito bem escondido dos olhos do pai. Sabiam que, se fossem descobertos, o velho pirata os matariam. Se não aos dois, ao menos o jovem por quem sua filha se apaixonara.

Os jovens andavam pela ilha à procura de comida e a moça se aproveitava da oportunidade, longe dos olhos de seu pai, para dar alguns beijinhos em seu namorado. Jorge, já bem idoso, começou a desconfiar dos olhares que sua filha dirigia ao marujo, que nessa época já era um belo rapaz. Foi essa desconfiança que fez com que o velho pirata desenterrasse o tesouro, para modificar o lugar do seu esconderijo.

Ao cavar à terra, Jorge não encontrou as sacas de ouro tampouco o baú abarrotado de joias. Enfurecido, o pirata compreendeu que teria sido roubado pelo marujo, pela própria filha ou, quem sabe, pelos dois.

Ao retornar à fenda que mantinha como esconderijo, Jorge ordenou que sua filha pegasse um pouco de água fresca na nascente. O pirata se aproximou do rapaz, como quem com ele fosse falar algo ao pé do ouvido e o atacou por de trás, apunhalando-o pelas costas. O jovem tentou correr, mas Jorge deferiu mais dois golpes, sendo este último fatal e ele caiu agonizante.

Ao retornar com a água, a sua filha ainda encontrou o rapaz com vida, correu em sua direção e percebeu os ferimentos. Travou com o próprio pai uma batalha de morte. Em desvantagem da força por conta do peso da própria idade, o pirata lançou mão do mesmo punhal deferindo alguns golpes no peito da filha, que cambaleando se juntou ao corpo do seu único amor, para ali, sucumbir à ganância do seu próprio pai.

Descontrolado com o que havia acontecido, Jorge entendeu que toda a sua carga de ouro havia se perdido para sempre, pois as únicas pessoas que sabiam aonde o ouro se encontrava, haviam acabado de morrer. Desesperado, o velho pirata se dirigiu até o alto de um penhasco tentando entender todos os acontecimentos desastrosos em sua vida. Sem encontrar tais respostas, lançou o próprio corpo entre as pedras e as águas profundas da ilha.

Em 1795, uma embarcação deixou a cidade do Rio de Janeiro com destino à pequenina ilha. Seu capitão, um experiente oficial da armada inglesa, que numa época passada, já há mais de vinte anos, havia percebido algo semelhante a um bote nas águas por detrás do navio pirata em chamas. Entretanto, por conta da fumaça provocada pelo fogo no navio, nenhum outro tripulante da armada inglesa pôde confirmar as suspeitas do então marinheiro junto ao comandante inglês, costeando seus navios pelo outro lado, próximo da ilha maior.

O capitão Henri acreditava que Jorge Grego tivesse se escondido do outro lado da ilha, mas seus companheiros e os comandantes da esquadra inglesa não lhe deram ouvidos. Entretanto, Henri encontrou a ilhota.

Ela era linda, um verdadeiro paraíso onde as aves faziam seus ninhos nos paredões rochosos da encosta e os golfinhos nadavam como quem brincasse em meio àquele mar de águas transparentes. O capitão Henri chegou à ilhota, esperançoso! Ao desembarcar, já encontrou os restos do bote usado na fuga do velho pirata grego.

Explorando a ilha, Henri ia descobrindo em um lugar e outro mais indícios da presença do pirata. O capitão encontrou a fenda e, ao escutar as águas vindas da nascente, desceu até o fundo da caverna. Antes de chegar às águas, o capitão se deparou com os restos mortais dos jovens enamorados. Imaginou que teriam sido abatidos por algum animal que habitava a caverna e saiu de lá o mais rápido possível.  

Henri obteve a certeza de que precisava: Jorge Grego havia chegado à ilhota e decerto, com ele, alguns de sua tripulação trazendo consigo, é claro, muitos sacos de ouro. O capitão passou aquela noite na pequena praia da ilha, retornando ao Rio de Janeiro logo pela manhã. O capitão inglês precisava contratar uma pequena tripulação, para não correr tantos riscos ao permanecer sozinho naquele paraíso cheio de mistérios e de perigos.

Retornando ao Rio, a embarcação do capitão Henri foi acometida por ventos sudoestes, ondas gigantes que acabaram por virar sua pequena nau desaparecendo com ele, a única possibilidade da existência dos tesouros de Jorge Grego.

Por conta da lenda, a ilhota recebeu o nome do pirata — Ilha de Jorge Grego.

A Ilha de Jorge Grego é um excelente local para mergulho e pesca. Em suas águas cristalinas, a grande variedade de peixes e de tartarugas favorece o esporte.

Os visitantes que vão à Ilha de Jorge Grego maravilham-se com as suas belezas naturais e se encantam com as aventuras da caça ao tesouro do velho pirata. Entretanto, sabem que o mais importante é ficarem atentos ao menor sinal de mudanças dos ventos, porque ali não há um abrigo seguro.

Em Jorge Grego há um mundo colorido de peixes e de outros animais como: polvos, camarões, estrelas-do-mar e lulinhas vivendo entre pedras ou sobre os corais formando um verdadeiro jardim subaquático. É imperdível!

Autor: Paulo César Coelho
Texto inscrito no Registro de Obras. Nº. Registro: 312233786

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 28/08/2009
Reeditado em 14/09/2017
Código do texto: T1779425
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