Cachinhos dourados

Pequena, bates a minha porta? Meus olhos – vidraças em dia de nevoeiro – tocam teu perfume. São dálias! Dálias cinzentas! Ah, não vai pensar – com justa razão – que estou triste. Mas o que sinto – faz anos já – é um apelo de alguém dentromiom para uma violência que sou incapaz de praticar. Então, punhais enferrujados e que não + cortam, são as canetas, ocas da tinta que esparramei no asfalto branco! Conheces bem - sei – essas pessoas que vivem em ETA e IRA. Essas pessoas que andam num Sendero Luminoso. Pois sinto que estaria apto a dinamitar pontes! Apto a chacinar inocentes! Apto a arruinar – tal qual os vermos – a barriga obesa dos burgueses! Apto aos atos! Atos dos apóstolos? Mas o que é isso!? Estou cheio de feridinhas, minha querida mulher! Apto a ser real, mas com o tempo passando – após os 21 – tornamo-nos em dois bonecos: bonecos da lavoura, os compreendidos e bonecos do mato, os que compreendem. E compreendi que minha aptidão tornou-se vazia! Jogo bombinhas – tão inofensivas – nem terreno vazio. Explodem, é certo. Como uma estrela. Como a estrela de um poema:

“... eu queria que fosses uma estrelinha.

Eu queria estar em uma colina

e queria te ver lá longe.

E queria que explodisse

em milhares de fagulhas e que uma,

apenas uma, caísse em minha mãos.

pequenina, para não me queimar.

E te guardaria dentromim

e esse teu pedacinho

apenas eu conheceria.

Mas o que cai agora

são folhas de pessegueiro.

amarelas, venenosas...”

A violência de mim apossou-se, querida mulher. Escute, um dia, Skateway do Sr. Knopfler . Escute o inicio dessa musica e daí, morte de meus olhos, saberás o que é pesadelo e sonho em mim. O que me consome...

César Piscis
Enviado por César Piscis em 15/09/2009
Código do texto: T1812244
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