As galinhas e Amanda

As galinhas e Amanda

Esta história começou quando, Olé!, Amanda chega a São Paulo, pra férias na casa dos avós. Nascida em Madrid, pai espanhol e mãe brasileira, aos três anos, a menina mistura as duas línguas, Espanhol e Português.

Meu encontro com Amanda foi trágico! A pequena me odiou de cara, ganhei dela o nome Mala. Não se trata de mala sem alça. Mala é má em Espanhol. Buena, boa em Espanhol. Éramos também, eu a Feia, e Buena, a bonita. Eu a azarada, e Buena a sortuda.

Sou de arame, mas como todo animal, tenho a transparência das crianças. Mostro o que sinto e penso. Olhava pra Amanda como ela me olhava, com o rabicho do bico, quer dizer, com o rabo dos olhos. Desconfiada. Quanto mais Amanda desconfiava de Mala, ou seja, de mim, mais Mala desconfiava de Amanda.

O medo de Amanda por mim aumentava, não podia se aproximar, dava longas voltas para passar bem longe. Logo começaram as intrigas:

_ Vovó, Mala me pica, contou. (Colocou os dedos da mão direita em forma de bico, e bateu com eles no braço esquerdo, mostrando pra Vovó, como Mala fazia. Inventou também que quebrei um copo. Vovó perguntou, "Como ela quebrou, Amanda?", "Com o bico", responde a espertinha).

Vovó sentou-a no colo e a ninou, pensando que ela sentia falta do pai que deixou em Madrid. Mas Amanda não sossegou, e fez uma proposta:

_ Vovó, joga Mala na basura. (Basura é lixo em Espanhol).

_ Quer jogar Mala no lixo?

_ Quero. Não pego nela, joga você.

_ Está bem, falou Vovó, mas só se jogar a Buena também.

_ A Buena não, é boa e guapa. (Guapa é bonita em espanhol).

_ As duas chegaram juntas aqui na casa da Vovó, se Mala for pro lixo, Buena também vai.

Amanda odiou. Queria que Vovó me jogasse no lixo, Buena já era dela. Olhou pra Vovó, intrigante, dos pés a ponta dos cabelos:

_ E de castigo? Mala fica?

_ Bem, depende, qual castigo? Responde Vovó.

_ Com a cara pra parede.

_ Está bem, fala Vovó.

_ Você põe Mala no castigo.

Pede Amanda, pois não podia tocar-me. Fui pro castigo com a cara voltada pra parede. Pedi pra Buena contar-me dos passos da terrível criança. Sabia que se pudesse, ela me arrancaria umas boas penas. Embora não tenha penas, sou feita de fios de arame, podia sentir a dor das penadas arrancadas.

Fiquei esquecida na varanda por dias e dias. Aí aconteceu um milagre, Amanda sentiu saudades de mim. Saudade, uma palavra que só existe em Português.

_ Onde está Mala? Perguntou um dia ao acordar. Gritaram atrás de mim pela casa inteira:

_ Mala Mala Mala!!!!!!!!

Escuto, penso e falo, mas com outros seres de arame. Compreendo os humanos, mas eles não me entendem. Gritaram até me encontrar. Saí do castigo e Amanda me acolheu. O nome Mala não perdi, mas do lugar da má, certamente saí.

***duas versões do mesmo trabalho:

"Amanda e as galinhas Pituca e Luluca" , e "As galinhas e Amanda": ler O processo da escrita