“ O PRÍNCIPE E A PLEBÉIA”
 
Um luxuoso castelo, suntuosa residência
de um principezinho belo, qual pura flor da inocência.
Ali em meio à riqueza onde nada lhe faltava,
sentia às vezes tristeza com a vida que levava
e o pequeno aristocrata consigo mesmo dizia:
- Aqui tenho tantas coisas, porém, não tenho alegria
pois, tenho muitos brinquedos, mas brinco sempre sozinho.
Quem me dera, quem me dera brincar com bons amiguinhos.
Os pais que o amavam tanto perceberam a solidão
que sentia o pobrezinho, que não tinha um só irmão.
Compreenderam que o filho sentia necessidade,
de uma outra criança para ter felicidade.
Procuraram entre as crianças das servas do seu castelo,
o pequeno mais amável e ao mesmo tempo mais belo.
Não foi difícil escolher a criança pretendida,
era uma linda menina pela mãe muito querida.
Depois então de vesti-la em ricos trajes de gala,
a rainha pressurosa foi ao filho apresentá-la:
- Meu filho esta menina é teu valioso presente,
que te fará doravante um príncipe mui contente.
Tanto ela como tu precisam de companhia
e estando sempre juntos viverão em alegria.
- Se é assim eu me contento e aceito este tesouro
que a mim tem mais valor que as riquezas e ouros.
Depois fitando a menina sorrindo o pequeno diz:
- Alegro-me em saber que vou fazer-te feliz.
Assim a pobre menina foi então predestinada
para alegrar o fidalgo longe da mãe tão amada.
Era ela inteligente que compreendia a missão
e sabia então tratar o príncipe como irmão.
Porém, sofria a coitada ao ver que aquela ventura,
arrebatou-lhe da mãe e causou tanta amargura.
À noite em seu aposento rico como o de princesa,
abafava seus lamentos, soluçava de tristeza.
Certo dia em que os dois passeavam pelo jardim,
O menino colhe uma rosa e diz à menina assim:
- Estela eis esta flor, recebe-a como um abraço
talvez não compreendas, mas é um pacto que faço.
- Alberto não compreendo e peço uma explicação
que quer dizer este gesto de profunda afeição?
- Quer dizer que neste dia assinalo com esta rosa,
que no futuro serás minha amiga e minha esposa.
A menina estremeceu ficou pálida e confusa
e a rosa oferecida receber ela recusa:
- Não Alberto eu não posso esse pacto aceitar,
somos ainda crianças pra nesse assunto tocar.
Além disso, são seus pais que escolherão sua esposa,
por isso eu não aceito a oferta desta rosa.
Desapontado Alberto olha triste para Estela
e num suspiro amargo diz tristemente a ela:
- Eu pensei que este pacto te deixaria contente,
porém, vejo com espanto um gesto tão diferente.
Empalideces e ficas até com medo de mim,
trouxestes-me a alegria e agora me fere assim?
- Alberto eu disse apenas uma inegável verdade,
esse assunto não nos cabe, é da sua majestade.
E permanecem calados apenas alguns momentos,
porque Alberto retorna de novo ao contentamento.
- Mas que tolo que eu sou, minha amiga querida,
quem sabe se nossos pais já traçaram nossas vidas.
A menina baixa a fronte e corre ao seu aposento,
Alberto fica surpreso com o seu comportamento.
- Ela recusou à rosa e porque todo esse medo?
Pareceu-me que Estela esconde nela um segredo
e se há algum mistério eu preciso desvendar,
porque será que os pais dela demoram tanto chegar?
Mas vou falar com mamãe e ela me explicará,
falarei do meu desejo assim me compreenderá.
Alberto então revela o seu ato à rainha,
ela sente um calafrio correr pela sua espinha.
E o menino percebe aquela perturbação
e quer que a majestade lhe dê uma explicação.
Mas ela ordena ao filho:- Vai para o teu aposento,
pois, és pequeno demais pra falar em casamento.
O príncipe não insiste e vai para o aposento
e ali fica absorvido em estranhos pensamentos.
A rainha conta ao rei o que tinha se passado
e ele também demonstra bastante preocupado.
Então resolveram afastar a menina de Alberto,
porém, o principezinho não poderia estar perto.
Traçaram, pois, um plano que não falharia
afastariam Estela enquanto ele dormia...
Em plena madrugada criados acordam a menina,
dizendo que era preciso uma fuga repentina.
Ela deixa seus pertences, a riqueza, deixa Alberto
entretanto, está feliz porque da mãe está perto.
E os reis aliviados olham a carruagem partir,
levando aquela criança que fez Alberto sorrir.
Estavam muito tranqüilos, pois, Alberto nada vira
e para o pobre menino estava pronta a mentira.
Porém, da alta janela uma figura assustada,
contempla a carruagem virar a curva da estrada,
depois se atira ao leito sentindo desfalecer,
com a dura realidade que acabara de saber.
Alberto tão preocupado, ainda estava acordado
e ouviu toda a conversa entre Estela e os criados.
E assim então descobriu que Estela era pobre,
era filha de uma serva e não de pessoa nobre.
Viu desvendado o segredo e à Estela deu razão,
queria então relutar, mas viu que seria em vão.
E com grande amargura viu a carruagem seguir,
levando também consigo a alegria de sorrir.
Quando lhe contam a mentira ele finge acreditar,
porque nada adiantaria naquela hora falar.
E assim o pobre menino voltou para a solidão,
sofrendo mais do que antes por tanta desilusão...
Os reis viam a tristeza no menino habitar,
mas por causa da nobreza fingiam ignorar.
O tempo foi passando e o príncipe cresceu,
porém, da linda Estela jamais ele se esqueceu.
E aos vinte anos de idade decidiu então falar,
aquilo que há muito tempo soube muito bem guardar.
Declarou a sua mãe tudo o quanto sabia
a respeito de Estela, a quem tanto ele queria.
A rainha surpreendeu-se com tais coisas reveladas,
cenas que ela julgava nunca mais fossem lembradas.
E qual não foi seu espanto, sua ira e sua dor,
ao saber que o seu filho tinha por Estela amor.
Era um amor tão imenso, poderoso e profundo,
capaz de enfrentar barreiras, de lutar contra o mundo.
Em vão a nobre senhora tentou convencer Alberto,
de que os planos que traçara a um nobre não era certo.
Pois, o príncipe partiu à procura de Estela,
ele estava disposto a deixar tudo por ela.
Passavam os dias, os meses e Alberto não regressava,
andava a procurar a mulher a quem amava.
Um dia já bem cansado, de buscar sem encontrar
resolveu ir ao teatro para as mágoas aliviar.
E lá seus olhos pasmaram e seu coração pulsava,
enquanto uma bailarina graciosamente dançava.
Algo estranho se passava ao ver a jovem tão bela,
que embora um pouco mudada, parecia-se com Estela.
E depois que a dançarina ao camarim se encaminha,
Alberto enamorado age como lhe convinha.
Ele adentra ao camarim e a jovem estremece,
pois, o olhar de Alberto tão logo ela reconhece.
E quase que num delírio, como quem vê uma visão,
a graciosa dançarina faz esta exclamação:
- Se eu não estou sonhando, se o que vejo é certo,
estou vendo a minha frente o nobre príncipe Alberto!
- Estela então és tu? Ó que suprema ventura!
Não sabes há quanto tempo estou a tua procura.
- Céus, mas que grande erro estás cometendo alteza!
Sabes agora ó príncipe que não pertenço à nobreza.
- Não fique assim constrangida, sei de tudo a teu respeito
e saibas que ainda hoje tu habitas em meu peito.
Eu jamais te esqueci e tive que a procurar,
para dizer sinceramente que vivo a te amar.
- Alteza que estás dizendo? Que absurdo! Que esperança!
Pois, se unires a mim perderás a tua herança.
- E que me importa perder o reino, toda a nobreza,
se em troca eu te ganhar, terei a maior riqueza!
- A cegueira dominou-te, mas quando isso passar
será muito tarde alteza e não poderás voltar.
- Por favor, não fale nada, diga apenas que me quer
e então nada impedirá que sejas minha mulher.
Estela baixa a fronte sem nada responder,
é maravilhoso demais o que acaba de saber.
E o príncipe insiste:- Responda-me, por favor,
diga-me que eu serei ganhador do teu amor.
- Alteza já que a resposta irá  fazer-te feliz,
confesso príncipe Alberto, eu também sempre te quis.
- Estela, minha Estela tentaram nos separar,
mas agora ninguém mais poderá nos afastar.
E assim o belo príncipe retorna a última vez,
declarar a toda corte a escolha que ele fez:
- Aqui estou neste momento ante a vossa majestade
e perante todos vós ilustres celebridades,
pra dizer que renuncio ao meu reino e meu trono
e que por uma plebéia a nobreza eu abandono.
Todos ouviram, porém, permaneceram silentes
e o príncipe e a plebéia foram felizes pra sempre.
 

(imagem do google)