Minha primeira bicicleta

Desde muito pequeno sempre via alguns de meus coleguinhas de escola voltarem pra casa em suas bicicletas coloridas e cheias de adesivos maneiros.

Eu me perguntava:

- porque meu pai nunca me dera uma dessas? Mas nunca tive coragem de perguntar a ele mesmo. Talvez eu soubesse de seus motivos.

Um dia quando menos esperei, ele chegou da rua com uma bicicleta quase sem cor, sem adesivo maneiro, sem pára-lamas, sem garupa e o que é pior, quase sem freio.

Mau entrou em casa e foi logo falando:

- essa é prá você ir à escola e não reclamar mais!

Oras bolas, eu nunca reclamei de nada. Era muito conformado com tudo que tínhamos ou com o pouco que tínhamos. Apenas comentava que a escola era muito longe.

No dia seguinte ele comprou tinta vermelha, adesivos, garupa e freios. Praticamente refez a bicicleta.

Minha primeira bicicleta ficou linda e eu agora poderia fazer parte do grupo de ciclistas radicais.

Naquele dia ela, (a bicicleta vermelha), foi a atração da escola.

A notícia logo se espalhou. Todos vieram vê-la e constatar a veracidade do boato.

Eu nunca tinha sido a atração. Orgulhoso, como ninguém, afinal meus melhores amiguinhos... as menininhas da escola estavam todas lá a minha volta.

Apesar de todos os elogios, sempre tinha alguém pondo defeito aqui e ali. Eu não me importava com eles. Eram os que nunca tinham tido uma bicicleta, ou se tinham, não eram tão bonitas como a minha.

Subi todo empolgado na minha bicicleta vermelha e pedalei, pedalei, pedalei, ganhei velocidade...que delicia a liberdade sobre duas rodas.

A sensação era maravilhosa, o vento no rosto, o cabelo esvoaçante, o barulho do pneu.

Sabia que todos me olhavam, todo orgulhoso preparei o salto, por cima do banco da praça que ficava um pouco mais a baixo do nível da rua.

Seria fácil executar aquela manobra radical na frente de todos ali presentes e sair por cima com toda a moral. Seria a melhor bicicleta e o melhor ciclista.

Não deu outra. O pneu dianteiro não levantou o suficiente e... O traseiro prendeu no encosto baixinho do banco de concreto que nem mexeu.

A bicicleta com a roda travada me lançou dois metros a frente. Cai de um lado e a bicicleta do outro, com a cara no chão, joelhos ralado no piso de cimento grosso. Veio a dor... doía que doía!

Percebi a calça rasgada, os joelhos sangrando, as mãos raladas e inchadas.

Levantei rapidamente subi na minha bicicleta vermelha e disparei ouvindo gritos, assovios e vaias de toda a turma na saída da escola que ria de gargalhada.

Os invejosos de minha bicicleta vermelha eram os que mais zuavam da situação.

Naquele dia aprendi uma grande lição. A dona "exibição" é a vizinha mais próxima da dona "gozação".

David Bandian
Enviado por David Bandian em 26/10/2010
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