Metade do Pão-doce

Metade do Pão-doce

Pai estava trabalhando na construção da estrada Pesqueira Arcoverde, e recebia seu salário toda semana. Não era muito, percebia-se pelo seu semblante meio decepcionado, meio envergonhado, quando apresentava o dinheiro a Mãe. Mesmo pouco, sempre reservava algumas moedinhas para me fazer um agrado, e eu esperava ansiosamente por isso.

Nessa época, na venda de Zé de Zaca tinha uns pães-doces deliciosos, e eu usava minhas moedinhas para comprar um toda semana. Era a continha certa, e eu, como toda criança egoísta, nem esperava chegar em casa para me deliciar. Comia ali mesmo, com receio de que alguém me pedisse um pedaço.

Num desses dias, eu tinha acabado de comprar meu pão-doce, já estava com água na boca, quando percebi que um moleque, um dos mais travessos da turma dos meninos da rua, olhava como que hipnotizado para minha guloseima. Olhar fixo, semblante abobado, e quando percebeu que eu estava reparando, baixou os olhos envergonhado, e passou a fixar-se em seus pés descalços. Senti uma sensação estranha, e sem pensar duas vezes, parti o pão-doce ao meio, dando-lhe uma metade. Ele pegou, rosto corado e um sorriso sem graça. Comemos nossas metades ali mesmo. Depois, mais um sorriso amarelado, e fomos cada um para seu lado.

Naquele dia, a metade do pão-doce me satisfez por completo.