A História começa...

"A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão se expanda." (Jonh Betjaman)

O movimento das nuvens sempre aguçou minha imaginação.

Talvez porque o céu não tenha limites.

Talvez porque meus pensamentos nunca desejaram a inércia.

Talvez porque na imensidão azul encontrava a paz que minha mente criativa tanto desejava...

Longe das proibições da escola, longe das borrachas intrometidas apagando a imaginação alheia...

O céu era o lugar perfeito!

Era deitada no quintal, ao lado do banco de madeira...

No extenso balanço sob as parreiras...

Que centenas de histórias eram inventadas.

O céu era como um livro a espera de rabiscos.

Deitada, onde quer que fosse, sentia que aquele infinito com páginas celestinas esperava minha assinatura.

Nesse contexto, nasceu a história do coelho Castão.

O que se segue são minhas vagas lembranças das muitas histórias que inventei deitada no enorme quintal onde nasci e cresci, ao lado dos meus familiares...

Mirava uma nuvem e logo ela já tinha forma, nomes, adjetivos...

Meus pensamentos ligeiros e ricos em imagens articulavam enredos dignos de uma pequena contadora de história, assim dizia vovó quando minhas primas faziam uma roda pra ouvir-me. Todas deitadas com seus olhos direcionados para o céu.

A História começa... O Coelho Castão

Aquele era o coelho Castão. Muito sabido, peralta e vivia aprontando. Quando olhava para o céu e via suas orelhas atrás da grande “Pedra Espetada” - uma nuvem informe cheia de pequenos algodões pontiagudos - sabia que alguma travessura Castão havia aprontado.

Desta vez, ele comeu toda a plantação de cenouras do Rei Pança que o procurava aos berros nas costas do seu robusto elefante.

Sua voz era rouca e exageradamente grave!

Parece que o vento adivinhou que os passos largos e pesados do elefante iriam passar pelas campinas e assoprou bem forte espalhando as nuvens onde os camponeses trabalhavam.

O vento soprou e o Rei Pança passou rumo a “Pedra Espetada”.

-Saia daí Castão comilão! Saia e devolva minhas cenouras. Vejo suas orelhas pontudas... Não adianta se esconder! Esbravejava o rei.

O vento bem que havia avisado, mas as nuvens que abrigavam os camponeses eram curiosas por demais e se aproximavam da “Pedra Espetada” e do Rei Pança.

A nuvem informe cheia de pequenos algodões pontiagudos - "Pedra Espetada” – se encolhia e as orelhas do coelho Castão ficavam cada vez mais visíveis sob os raios refulgentes do sol.

Sentindo-se encurralado, o coelho Castão começou a gritar: - Nem mais um passo elefante Trompete! Pare de andar e se afaste carregando esse rei barrigudo, caso contrário o segredo das cenouras será revelado.

A tromba do Trompete esticou como um elástico, uma nuvem comprida que quase fundiu-se com a “Pedra Espetada”.

Todo esse esforço do elefante Trompete só para calar o tagarela Castão, mas foi tudo em vão!

O céu virou uma anarquia!

O Rei Pança começou a inflar como se fosse um balão e exigia explicações.

Até o vento que queria distância foi metediço. Ligeiro, ele empurrou todas as nuvens tornando a confusão ainda maior.

O rei inflava... A trompa do Trompete esticava... As nuvens camponesas de ouvidos atentos chegavam cada vez mais perto, pois queriam saber o grande segredo.

Resoluto o coelho Castão propeliu essas palavras ao rei : - Suas cenouras estão na tromba do Trompete. Ele as esconde, pois não aguenta carregar um rei com essa volumosa pança!

Trompete num estrondoso grito expulsa as cenouras pela tromba. Assistindo tamanha traição o Rei infla, infla, infla... E as nuvens se encontram numa verdadeira explosão!

O céu se acalmou e as nuvens, agora, pareciam minúsculas... A tromba do Trompete espalhou as cenouras pelas plantações e tirou o coelho Castão de uma enrascada.

Amanhã, o céu terá mais nuvens e a história prosseguirá.

Rei Pança escreverá um novo decreto que proibirá que as cenouras aumentem sua pança.

Nesse momento, o rei inflado descansa em seu castelo, pois explodir provoca bocejos e dá sono.

PS: Tenho outras histórias direcionadas ao público infantil. Escrever para as crianças é muito prazeroso.

Danielle Faria
Enviado por Danielle Faria em 17/05/2011
Código do texto: T2974864
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