JÁ É TEMPO DE NATAL!

Pedrinho ouviu o carro anunciando a chegada de papai Noel, acordou seu amigo, que como ele dormia sobre o papelão.

— Acorda Fareco, hoje é natal, papel Noel chegou.

— Tá maluco Pepê, a genti foi dormi onti e era novembru, como podi sê natal.

— Eu acordei com um carro passando e dizendo que papai Noel, acaba de chegar do pólo norte.

— Cê é troxa mermo Pepê, esta coisa de papai Noel num inxesti si liga.

— Claro que existe Fareco, meus pais sempre fizeram árvore de natal, e o papai Noel sempre trouxe tudo que eu pedi.

— Era quandu cê era mauricim, Pepê, quandu cê era riquim, agora cê é meu brodi. E si esti papel Noel inxistisse ele não tinha dexado ocê si perdê e vim pará na rua.

— Por isso acredito que ele existe Fareco, quando me perdi fiquei com tanto medo, chorei e rezei pedindo minha família de volta, e você me encontrou, você é meu irmão, meu brodi.

— Si liga Pepê. Sô bonzim não, é que tenhu quinzi e cê tem seti, as pessoa sempri cai nessa carinha de Mané sua, e a genti ganha um trocadu pru rangu.

— Chora não Pepê, cê é ingual bebê, chora toda hora.

— Preciso ver o papai Noel.

— Tá bão, vai! Coloca aquela sua brusa mais nova, senão não dexa cê entra não, vô ti levá lá.

— Sabe onde ele está Fareco?

Pedrinho e Rafael foram até o shopping. Fazia seis meses que Pedrinho se perdera dos pais e desde então aprendera a andar e sobreviver nas ruas com a ajuda de Rafael, que “optou” por sair de casa já que o pai bebia e espancava a mãe. Como era difícil conviver em família numerosa, dividindo quase nada para comer e diante de tanto conflito e sofrimento, Rafael estava há oito anos morando nas ruas.

Chegando ao shopping, Rafael disse a Pedrinho que não o deixariam entrar por causa da aparência de pivete, ajeitou o cabelo de Pedrinho e o ensinou a andar próximo a um casal para enganar os seguranças e não descobrirem que estava sozinho.

Trinta minutos depois Pedrinho se junta a Rafael na caçada, estende a mão cheia de balas e divide com o amigo.

— E aí brodi, pediu pro velinho pra incontrá sua famia.

— Ele até me perguntou o que eu queria Fareco, mas eu disse a ele que só vim agradecer por ter me mandado você.

Os dois fizeram um toque de amizade que Fareco ensinou a Pedrinho e caminharam juntos na avenida iluminada pelas luzes do Natal.

Lilia Costa
Enviado por Lilia Costa em 02/11/2011
Reeditado em 02/11/2011
Código do texto: T3313548