Tempo de Verão

No Louredo, casa dos meus avós, o tempo estava muitos anos atrás!
Deitado o trigo na eira, vinham os homens perfilar-se com os seus manguais
(dois caibros, ligados fortemente por uma larga tira de couro).
Perfilavam-se, de modo descontínuo, davam um grito surdo e, ora um lado ora outro, levantavam no ar as armas terríveis, faziam balanço e e parte final do barrote caía sobre as espigas com estrondo.

Que força hérculea teriam, meu Deus!
O suor depressa lhes escorria cara abaixo, ensopava-lhes a roupa e os cabelos....mas eles ficavam toda a noite, na sua guerra, como se uma força imensa os tivesse pregado ao chão.

Eu tudo via e guardava na memória com profunda atenção

... Sozinha e calada, aprendi a amar a terra, todos os seus filhos e todos os seus frutos.

Era doida por pirilampos cheios de mistérios, ora estavam, ora não...
Bem que eu ia de mansinho... raramente apanhava algum.
Melhor não os apanhar: ficava a olhar para o pobre e negro insecto, que era tão frágil quanto a minha ilusão.

Costumava sentar-me no terreiro, olhando as estrelas e, pela distancia entre elas e as ramas do sobreiro, percebia que andavam pelo céu...
Encantada, pensava serem naves espaciais, das histórias que lia nos livros dos meus primos, quando vinha passar temporadas à cidade.

Exaltava-me: só eu percebia que outros seres nos espiavam, só eu sabia dos satélites e os via passando muito devagarinho, entre as estrelas, por cima dos altos ramos.

Gostaria de contar outras histórias: a desfolhada, a ceifa do feno, o pátio das acácias, para onde dava outra porta do palheiro e que só se via uma vez por ano: ah, que vontade tinha de abraçar aquelas flores fofas e amarelinhas, amarelinhas como o sol da manhã!
Mas esse tempo breve da minha desprotegida infância terminou noutra reviravolta da vida, quando fiz dez anos.