Travessura

O sol da tarde que chega atinge em cheio as folhas da goiabeira... e um vento manso sobe junto com a menina à procura de goiabas maduras da carne branca. Nena olha em volta indecisa de qual galho tem os melhores frutos. Sobe mais um pouco. Inclina o corpo para frente certa de que vai conseguir pegar uma goiaba num galho fino... os olhos, pequenos e vivos, pousam numas formigas vermelhas que também resolveram disputar o mesmo galho.

_Ahn, não! E agora?

O susto quase a deixa sem ação. Então, começa a sentir as picadas nos pés, depois nas pernas, depois pelos braços... e grita e chora:

_ Formigas, ai, ai! MAMÃE”

E Nena desce da árvore numa rapidez desesperada toda se coçando e gritando... iniciando uma corrida na direção do rio. As águas acalmariam as ferroadas. Os olhos cheios de lágrimas eram castanho-escuros, mas pendiam para um negro de raiva dos insetos... a boca de lábios finos... tremendo, tremendo...

Ah, que alívio! A água estava começando a se aquecer no calor das duas horas. Estava também um cheiro de peixe e de cajus... cajus? Sim, cajus do outro lado do rio. Na quinta do Clidenor Cerqueira.

De onde ele arranjava tantos cajueiros com frutos vermelhos? Eram os preferidos dela. Do lugar em que se encontrava podia ver os cajus se balançando: vri-vri-vri... chamando-a num imenso sabor de doçura.

Há umas braçadas boas até a margem do lado de lá, quase sem muito esforço, levantando a vontade de a menina provar que sabe nadar muito bem. Um mergulho grande é como se lhe tirasse o fôlego. Diante desse meio fluvial e conhecido por ela desde os seios anos, os bracinhos ganham os últimos espaços que a separam do terreno cobiçado.

O corpo ganha uma agilidade pelo desejo de provar os cajus. As mãos agarram firmes o tronco escamoso da planta. Por entre as folhas penduram-se bonitos cajus de uma pele róseo-avermelhada... meu Deus!

_ NENA! VEM CÁ, MENINA DANADA!

Os meninos da rua gritam nas brincadeiras. Às vezes passam quase rente à cadeira dela que a calçada parece querer jogá-la de encontro a deles e dizer que está de castigo sim, mas que o pai não lhe deu nem uma palmada. Porém fica quieta observando movimento como se ela estivesse longe, num lugar parado e distante de vozes... “O que o pai dissera mesmo? Você me envergonha, minha filha!”

Quanto tempo se passou? Não sabe. Apenas aspira com delícia o vento da noite, cujas estrelas fingem não notar que o sol acabou de sair. Está calma. Uma moleza a faz baixar os olhos e esconder um nó que insiste em ficar-lhe na garganta. Podia ouvir as batidas do coração. Quem sabe estava com fome?

Oh! a mãe a chama para jantar e, num romper de lágrimas joga-se nos braços dela e chora, pedindo desculpas. Há coisas que as crianças aprendem devagar...

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 19/11/2012
Reeditado em 19/11/2012
Código do texto: T3994643
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