UMA AVENTURA DO PINÓQUIO
O boneco que queria ser homem

 

Pinóquio ia vagarosamente pela rua com a bolsa escolar pendurada displicentemente no ombro, tudo demonstrando seu tédio e sua preguiça ao encaminhar-se para mais um dia de aula na escola.

Na esquina um camelô chamava insistentemente a atenção dos transeuntes para oferecer a passagem para um passeio de barco.

Não teve dúvida. Acabara de receber sua mesada, ia passar um mês sem dinheiro, mas tudo bem. Comprou a passagem e correu para a praia onde um barco esperava os passageiros para um belo passeio.

Aconteceu, porém, que o barco teve um desarranjo, perdeu a direção e ficou boiando a deriva, afastando-se cada vez mais da praia para desespero dos turistas.


Depois de dias de angústia chegaram a uma ilha onde havia uma bela cidade, Verápolis. Todos ficaram aliviados, fizeram um passeio pela região e no dia seguinte um avião os levou de volta ás suas cidades.

Pinóquio, porém, extasiado com a beleza do lugar preferiu ficar. Tudo ali era muito limpo, muito novo, muito bonito, as praias eram maravilhosas, muito melhor do que sua cidadezinha.

Mas não podia ficar simplesmente admirando a paisagem. Precisava ganhar algum dinheiro para se manter. Precisava arranjar um emprego.

Foi a uma agência e solicitou uma entrevista.
—Você é um homem ou um boneco?
—Sou um homem! Sempre fui um homem!
—Não, você é um boneco. Só será um homem quando conquistar muitas virtudes. Para inicio de conversa você precisa falar só a verdade.
—Mas eu nunca minto.

Mal dissera essas palavras sentiu que algo em sua cara se modificava e o interlocutor replicou:

—Não adianta querer enganar alguém aqui, pois suas reais intenções estão sempre no seu rosto.
—E por isso eu não posso trabalhar?
—Pelo contrário. Você tem que trabalhar e vai receber a paga justa pelo seu trabalho só que será um emprego de boneco.
—Mas eu não sou um boneco. Sou um homem!
—Você será um boneco até o dia que conquistar todas as virtudes que um homem deve ter.
—Hummm! E quais são essas virtudes?
—Muitas, mas principalmente a sinceridade. Você não deve mentir nunca. Mas não se preocupe, os bonecos também trabalham e são respeitados.
—E o que é que eu vou fazer?
—Vai varrer. Depois de algum tempo, se você for pontual, diligente e, principalmente, verdadeiro será promovido, irá espanar.

Pinóquio ficou revoltado. Varrer... Espanar... Pois sim! Ele ia dar um jeito nessa gente, ora se ia!

Com a vassoura na mão, varrendo preguiçosamente as ruas, ele ia arquitetando os mais ousados planos sem supor que em Verápolis todos os pensamentos dos bonecos chegavam ao conhecimento dos homens por um misterioso condutor.

Quando pensava em candidatar-se a Prefeito da cidade, camuflar a eleição, ser eleito, meter a mão no cofre, e então botar todos aqueles virtuosos homens que nunca mentiam varrendo e espanando enquanto ela ia ficar só no “bem bom”, sugando os recursos do município, teve seu devaneio interrompido por dois guardas que o prenderam e levaram até a cadeia.

Foi uma tristeza!

Agora tinha trabalho forçado o dia todo. Limpeza do presídio, cuidados com a horta, lavagem de roupas e muito mais.

E o pior de tudo, era vigiado dia e noite não tendo chance de tentar fugir.

Mas, também, fugir para onde? Se ficasse na cidade certamente seria preso de novo.

Mas um dia teve uma ideia. Quando recolhia o lixo, entrou em um dos sacos e ficou encolhido no fundo esperando a hora de ser atirado no caminhão e poder finalmente sair dali.

O que ele não sabia era que o lixo era atirado no mar, e quando se viu na agua, rodeado de detritos de toda espécie ficou desesperado. Ele nadava bem, mas não a ponto de chegar até a praia próxima de sua cidade que, alias, ele nem sabia para que lado ficava.

Quando já estava no final de suas forças avistou uma baleia e subiu-lhe no dorso. Assim pode descansar até que uma cegonha aproximou-se com uma redinha no bico e convidou-o:

--Venha comigo que eu vou deixá-lo em uma boa casa onde você terá uma família e poderá ser muito feliz.

Mais do que depressa ele acomodou-se na rede e foi pelos ares numa fascinante aventura até que chegaram a uma casa onde um casal os esperava na porta e ao vê-los correram ao seu encontro.

Quando a cegonha pousou a moça tomou Pinoquio carinhosamente no colo, mas logo decepcionada exclamou:

—Oh! Não é um bebê! É um boneco!
—Eu não sou um boneco! Sou um homem!
—Que graça! Um boneco falante, exclamou o marido!
—Vamos ficar com ele. Ele é uma gracinha!

Não era bem o que Pinóquio queria. Ele queria voltar a ser um homem, mas não estava disposto a pagar o preço.

Continuaria sendo um boneco, pois, afinal, nunca se soube mesmo de um boneco que tivesse virado homem.
                                
896861.jpg                  



   
Maith
Enviado por Maith em 01/07/2013
Reeditado em 09/07/2013
Código do texto: T4367670
Classificação de conteúdo: seguro