Diário de um sapo II_Continuação de "Diário de um sapo"

Estarei me transformando em mutante ? Ai !! Fiquei confuso demais !!

Com minha cabeça cheia de nós de indagações sobre minha vida, e minhas impressões sobre meu relacionamento estranho com aquela fulana, sai pulando sem rumo . Esqueci diário, caneta e tudo ao vento . Me percebi num momento de total desengano . Bastante magoado com as pessoas e o mundo .

Me vi num laboratório científico estudando anatomia humana . Éramos anfíbios adolescentes orientados por um mestre – o Senhor Anfíbius Anfíbius . Dissecávamos corpos humanos de todas as idades : bebês , crianças , jovens, idosos . Tal qual fazem com nossos irmãos em aulas de biologia . Cada aluno pega seu objeto de estudo coloca-o ainda vivo numa espécie de vidro gigante . Pega-se chumaços de algodão embebidos em álcool e lança sobre o corpo, em seguida coloca-se a tampa e observa o bicho morrer lentamente . Então, o corpo depois de morto, é retirado do invólucro e retalhado com cuidado enquanto se faz anotações . Cada parte do corpo é estudado separadamente . Cada célula , cada tecido, cada órgão, cada osso . Um aluno não suportou tal realidade e desmaiou . Fiquei petrificado. Não podia acreditar que estava fazendo parte de algo assim . Nisto levei uma bronca do mestre Anfíbius Anfíbius e uma reguada severa na cabeça . Foi tão terrível a dor que me fez acordar. Eu estava dormindo num cantinho da sala de aula de uma escola e fui descoberto pela zeladora que me atacou com um pedaço de pau . Assustado fugi .

Encontrei outro cantinho úmido e sossegado e ... fui parar lá no caixão de “Sapinha-bem-leve e os sete comelões “. Exatamente no momento em que ela seria beijada pelo Anfíbio Prince Real . O fato era que eles não podiam se tocar fisicamente, caso contrário, seriam transformados em seres humanos . Seres complicados demais para nosso entendimento . Minha missão ali era impedir o beijo e salvar “Sapinha bem leve “ do desencantamento que a mesma vinha sofrendo pela vida . Era magrinha demais, muito leve porque não se alimentava com medo de ser chamada de “ Sapinha nenhum pouco leve “ . Vaidades das fêmeas .

Na hora em que Anfíbio Prince Real foi aproximando seus olhos esbugalhados e sua boca com cheiro de musgo e inseto na boca de Sapinha- bem-leve, gritei como sempre, de modo escandalosamente rápido : “__ Não, assim não . Existe um modo prático e moderno de fazer isso sem correr riscos tão desastrosos !!” “__Qual ?” _ Quis saber Prince Real . “__ Envie para ela um stop motion em forma de coração para o celular , e um lindo bouquet com mensagens em vídeo pelo facebook.”_ Insisti . Assim procedeu o candidato a amarrar-se por toda a vida . Sapinha bem leve mudou de nome para “ Sapinha bem Love Prince Real .“ Fiquei tão emocionado que senti um gelo na barriga .

Novamente acordei . O gelo na barriga foi um copo de sorvete que lançaram na minha direção . O copo caiu ao meu lado e o sorvete respingou em mim que dormia como um anjo atrás de um vaso, onde havia um banco perto e um casal de namorados fazendo inveja pra lua.

Fiquei enlouquecido . Nunca ouvi ninguém dizer que sapo sonha . Resolvi dar uma voltinha, comer uns insetos enquanto o espaço estava livre . Não cheguei muito longe para logo avistar Sapinrela brigando com sua fada madrinha . Ela preferia as coisas tal qual estavam . Ela sendo a pobre sapa borralheira . Isto lhe dava prazer . Pra quê carruagem ? Se ela podia realizar longas e belas caminhadas enquanto se deliciava dos bichinhos que lhe matavam a fome ? Ficava com o corpinho em forma e ainda ganhava o pão . Recusou sapatinho de cristal , marido rico e tudo o mais . Estava realizada com seus pezinhos que Deus lhe deu, seu corpinho esverdeado, olhinhos e boquinha graúdos . Não lhe interessava agradar o brejo inteiro . Ela descobriu, no Google , que no oriente , os saponeses invejam os sapos do ocidente por suas características físicas peculiares . Quando pensei que tinha visto tudo, me aparece o Sapo Mau correndo dos caçadores . Ele tinha engolido viva a Sapinha Ligeira . Para meu maior espanto, os caçadores justiceiros eram humanos e salvaram a tempo Sapinha Ligeira da barriga do Sapo Mau . Sai fugindo , pulando doido deste cenário e fui parar pertinho da Fiona. Quase foi pego por ela e transformado em balão . Senti um toque em meu corpinho e um calafrio . Escapei da Fiona, mas cai nas mãos de um homem que me levava não sei para onde . Pensei : “ É agora que vou vestir meu paletó de madeira .”Esse homem vai me dissecar .

Lembrei-me de Deus e minha vida toda passou diante de mim , como num filme . Minha amada professora, a sala dela ... o banheiro... o sal... a vida salva... o adeus . Não havia mais expectativas . Fechei meus olhos para não ver as armas que me ceifariam a vida . Então, não sei como , eu estava diante de um homem pregado numa cruz que dizia “__ Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem !!” Naquele momento senti meu corpinho se aquecer . Para mim todo homem era mau . Vi , nesses cenários homens fazendo o bem . Até se perdoando entre si !! Acordei e vi que o homem que me pegou o fez para salvar-me . Me deu medicamentos e carinho . Voltei a acreditar nos homens . Descobri que existem pessoas boas – como minha professora inesquecível e esse que me salvou da sarjeta . Algumas não são totalmente más, estão em fase de construção do conhecimento . Parei de indagações . Tenho que esquecer meu amor pela mestra e seguir em frente . Procurar uma da minha espécie . Acabou a dor de cotovelo . Acabou a primavera. É outono .

Esses acontecimentos, amigo diário se guarda como um segredo de família . Jamais os revele para outros .

Lindalva
Enviado por Lindalva em 30/10/2013
Reeditado em 12/11/2013
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