A MAGIA DA JACA
 
Muito cedo, naquele quase ínício de manhã, onde o Sol ainda começava a se espreguiçar, uma jaca, enorme, madura e suculenta, despenca inglória no quintal da casa de pau a pique, ainda adormecida. De seus gominhos saem centenas de criaturinhas, amarelo pálidas, com bracinhos e perninhas diminutos, olhinhos preto azeitonados, não possuem narizes, bocas ou orelhas. Sem alarde ou pronunciamentos, magicamente vão transformando em silêncio, aquele lugar pobre, em uma linda casinha de campo avarandada. Surgem algumas árvores frutíferas e outras frondosas, um pequeno canteiro de flores vermelho alaranjadas, um belo galinheiro, cheio de galinhas gordas, uma vaquinha com dois bezerrinhos, uma carroça com dois belos e fortes burricos, um riozinho estreito e sereno atravessando toda a propriedade, já com peixes de bom tamanho. O lado de fora da casinha amarela de janelas cor de barro queimado, tem varandas em toda a sua volta, com redes floridas e listradas, cadeiras de b a l a n ç o  e na ponta, quatro bicicletas de tamanhos e cores difrentes, uma azul, uma rosa, uma verde e uma cor da casca de tangerina, todas com cestinhos, umas lindezas.

Nessa casa vivem Olga e Marcos, pais de Felipe de dez anos e de Tainá de cinco aninhos, são uma família muito pobre, unida e feliz, apesar das dificuldades. Com muito afinco e suor, Marcos e Olga conseguiram com o trabalho na roça, comprar aquele terreno  de bom tamanho, mas, o dinheiro não deu para construir uma casinha direitinha, apenas puderam fazer um tipo de abrigo, para que não ficassem ao relento, as crianças embora pequenas, também ajudavam na labuta diária, só assim podiam garantir o parco sustento, ao menos não precisavam pagar aluguel, o que já era uma enorme vantagem. Muito tementes à Deus, não deixavam , nem por um só dia, de agradecer à Deus pela família unida, pelo pão e pela saúde, talvez por esse motivo, a mágica estivesse acontencendo agora, em suas vidas, eram merecedores das bençãos que lhes estavam sendo destinadas, sem que eles tivessem o menor conhecimento. Pelo trabalho no campo, árduo, pesado e cansativo, tinham o sono muito pesado, pois antes das cinco horas da manhã, já precisavam estar tomando café para saírem para o trabalho.  

Tudo dentro da casinha de 
pau a pique ia se transformando, nada de luxos, apenas o necessário e com mais conforto, armários, camas, sofá, poltronas, som, geladeira, fogão, todos os móveis em madeira rústica e com almofadas coloridas suavemente, sobre uma delas um gato cinza, gordo e manso, dormia tranquilamente, eram apenas dois quartos, cozinha e um banheiro, todos os armários, a despensa e a geladeira foram abastecidos, roupas de cama mesa e banho, alimentos, material de limpeza e higiene, roupas simples para todos, sem mimos, exceto alguns doces, iogurtes e uns poucos brinquedos, para as crianças. A mágica estava priorizando conforto e utilidade, não iria fazê-los ricos, apenas, estava lhes dando dignidade e um pouco mais de conforto, um surdino latidoquebrou o silêncio mágico instalado, um cachorrinho marrom vira latas, estava avisando que também, já estava à postos, para a alegria daquela humilde família, as crianças iríam, com certeza, adorar.

Tendo os desígnios de Deus, sido cumpridos, os gominhos retornaram silentes ao interior da jaca e ela ao seu lugar de origem, a jaqueira frondosa no quintal, agora gramado e com um b a l a n ç o  de
pneus e cordas, pendurado numa enorme mangueira, no meio do pátio principal. Tudo muito singelo e bonito, um lindo lar.

O
Sol já nascia solene naquele pedaço de chão, quando Olga, tendo sido a primeira a acordar, ficou sem fala por alguns momentos, não conseguindo acreditar no que estava vendo, era um milagre, por certo, ela pensou. Se beliscou cruelmente, para ver se não estava sonhando, um dos seus muitos sonhos, mas, estava mesmo acordada, obrigada meu bondoso Deus!

Tratou de acordar Marcos, Felipe e a pequena Tainá, para poder partilhar com eles, aquela imensa alegria. Para todos, foi como estar vivendo dentro de um sonho lindo e abençoado, corriam para todos o lados, abrindo, janelas, portas e armários, com gritinhos de felicidade. Tainá logo que viu o
gato cinza lhe deu o nome de Docinho pois viu que ele era muito mansinho e carinhoso, não o tirou mais do colo, correndo toda contente pela casa. Felipe, quando achou as bicicletas na varanda, tratou de escolher a verde como sua, e saiu pedalando feliz pelo pátio, com o cachorrinho marrom logo apelidado de Fusquinha, saltitando atrás dele. Marcos e Olga, ainda não haviam conseguido, tirar os joelhos do chão, agradecendo fervorosamente pelas graças recebidas, era muita alegria dentro de seus corações, depois do trabalho iriam todos juntos, até a igreja mais próxima, agradecer e acender velas em louvor ao Senhor, tão generoso e amado.  

Fantasia ou sonho, realidade ou não, o que importa mesmo nesse conto de felicidade, é saber que uma linda história de fé e paz, pode ter mesmo acontecido. Uma história que muito gostei de ouvir, de uma freirinha  muito simpática, lá numa cidadezinha agradável e lúdica, no interior do Paraná.   


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 01 de agosto e 2015.

 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 01/08/2015
Reeditado em 01/08/2015
Código do texto: T5331448
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