O QUINTAL

Aquele quintal da minha infância era grande. Quando se abria a porta da copa deparávamos com o paraíso, meu quintal.

Árvores frutíferas, duas mangueiras, uma goiabeira, uma figueira, um limoeiro.

Entre as mangueiras dois balanços de madeira.

Uma casinha construída para a gente brincar.

Do lado esquerdo dois quartos. Um da serviçal da casa, nossa querida Orozina. O outro de minha irmã querida, que eu adorava entrar no seu quarto, onde ela trancava quando ia trabalhar.

Havia um banheiro grande, simples, com janela de madeira.

Embaixo dessa janela, dois tanques de lavar roupa, um maior e outro menor. Quando lavavam roupas, lembro dos lençóis brancos lavados com anil, espalhados no chão para quarar.

Do lado direito, uma cozinha com fogão a lenha e um moedor de café na parede. Quantas pamonhas minha mãe fez nesse fogão. Todos ajudavam, era uma festa deliciosa, pamonhas de doce e sal, recheadas com queijo e lingüiça.

Mais dois quartos, um vazio e outro de costura. Brincávamos de princesa no quarto de costura. Usávamos as roupas e camisolas das mães e enfeitávamos com os colares, pulseiras e brincos. Quanta realeza dos castelos imaginários!

Balançávamos muito naqueles balanços, brincando, cantando as músicas da época. Sonhávamos com nossos príncipes encantados.

Subíamos no pé de goiaba vermelha, suculenta, e as de bichinhos desprezávamos.

E as mangueiras, uma de manga comum, docinha, e a outra de manga bourbon, deliciosa. Eram enormes. Embaixo da de manga bourbon, na terra vermelha, jogávamos finca, uma jogada um risco, outra jogada outro risco...

A casinha feita de alvenaria e telhado, igual uma casa normal, brincávamos de boneca.

No tanque maior tomava banho na imaginária piscina. Que sensação gostosa.

Quantas lembranças da infância na cidade natal.

O tempo passou. Meu pai vendeu a casa, virou um curso de inglês. O jardim da entrada continua o mesmo, até a roseira de meu irmãozinho que faleceu em um acidente de carro aos seis anos de idade, continua lá dando rosas.

O muro baixo com as grades retorcidas e o portão são os mesmos que deixamos.

Hoje, meu quintal, sem árvores, sem o balanço, sem a casinha, nem o tanque, me pareceu pequeno, ou eu que fiquei grande, mas nunca esqueci das brincadeiras que se perderam no tempo, nem dos vizinhos que até hoje nos vemos.

Ana Amelia Guimarães
Enviado por Ana Amelia Guimarães em 26/02/2016
Reeditado em 26/02/2016
Código do texto: T5555547
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