A aranha

Era uma vez uma aranha morta, para falar a verdade, uma alma penada.Tinha sido brutalmente assassinada por um calçado tamanho 42 de couro.Morte horrível,mesmo para uma aranha.

Como tinha pendencias a resolver, a aranha não podia ir ao céu ainda,então,sem saber exatamente o que fazer,continuou a sua ''vida'' de onde havia parado.Subia nas paredes,fazia suas teias e capturava moscas que de repente se viam presas em algo que não podiam ver.

A aranha estava adorando sua nova ''vida'',tinha mais comida do que antes,uma vez que suas presas nunca viam que estavam indo direto para suas teias,além disso,nunca era pega por nenhum calçado.

São Pedro,que havia mandado a aranha resolver suas pendencias,estranhado a demora da mesma,foi ter com ela.

''Francamente'',disse São Pedro ao avistar a aranha mais rechonchuda do que nunca,''que vergonha,a senhora em vez de fazer o que mandei resolveu se entregar a gulodice!Parece que não vai ter jeito,a senhora vai para o inferno.''

'' Não,não,por favor meu santinho não faça isso!'' brandou a aranha,que interrompeu sua refeição ao ouvir falar do inferno,o lugar onde, diziam,ser povoado por inúmeros pares de sapato,vassouras e moscas grandes demais até para suas primas caranguejeiras.

'' Bem,se a senhora se comprometer de que em agora em diante vai fazer o que eu mandei,talvez eu possa relevar sua falta.''

''Claro meu santinho,eu prometo.''

Quando São Pedro sumiu em um flash de cegar os olhos,a aranha pois se a descer ao chão,um tanto quanto irritada por ter de abandona a saborosa refeição,mas contente por ter se salvado do inferno.

Pensativa,vagou a esmo,uma vez que não se lembrava de nenhuma pendencia sua,já que nunca ficará devendo nem sequer uma mosca a alguém.Ia indo distraída quando suas patinhas bateram em uma superfície de couro,já ia correr,mas lembrou-se de sua invisibilidade e aproximou-se de um enorme sapato velho que murmurava consigo mesmo em baixo de um mesa escura.

''Que infelicidade,que infelicidade'',a voz do sapato era de dar dó.''

''Que infelicidade é essa,meu amigo?'' perguntou a aranha,curiosa.

''Quem está aí?''perguntou o sapato erguendo os longos cadarços escuros,'' ou melhor,não importa,a tempos que não converso com alguém,a não ser que você seja um rato,sabe?Não gosto de ratos,eles roem o meu couro. Você não é um rato,é ?

''Não,sou uma aranha.''

''Ah,aranha,as aranhas antigamente tinha muito medo de mim,me diga aranhinha, você tem medo de mim ?

'' Não,senhor''.

''Foi o que eu pensei,mas veja bem aranhinha:Sou um velho sapato infeliz,antigamente era o mais bonito entre os meus,sempre limpo e bem engraxado,e,desculpe-me,mas era a mim que eles recorriam para matar suas irmãs!Mas depois desse furo,'' o sapato inclinou-se para mostras um pequeno furo na parte da frente,'' eles simplesmente me deixaram aqui,depois de terem jogado meu irmão fora!Dá para acreditar,Dona aranha?Jogaram meu irmão fora só porque ele andava desgastado,mas como não andar desgastado se ele era o pé direito!?'' E o sapato recomeçou a sua lamúria agora povoada por lágrimas.

A aranha,que naquele corpo miúdo tinha afinal um coração,apiedou-se do pobre sapato e prometeu-lhe fazer algo para amenizar seu sofrimento.Subiu em cima do mesmo,e começou com suas pernas hábeis a remendar o buraco e,pronto, lá estava um sapato novo!

''Obrigado,Dona aranha''disse o sapato quase feliz, ''mas do que adianta remendar um furo,se ainda sou um velho desgastado?'' e recomeçou a chorar.

''Subindo pelas pernas da mesa, a aranha avistou um recipiente de tinta preta e por ter vivido toda a vida a observar o mundo lá de cima,soube exatamente o que era.Juntou a seis patinhas e começou o trabalho minucioso de subir e descer a mesa com um bocado de graxa para passar no sapato.Depois do que lhe pareceu uma eternidade,ali estava na sua frente um belo sapato de couro!

''Oh,aranha,muito obrigado,sinto-me tão feliz! apesar de que,é provável que ninguém me veja aqui embaixo.''

Extremamente alegre por está ajudando alguém a aranha nem pensou duas vezes, e foi ter de novo em cima da mesma.Esperta,como só as aranhas podem ser,já que conseguem fugir do terríveis chinelos,amarrou de um lado a outro o elástico nas pernas dianteiras da mesa e depois foi colocar o sapato entre ele,de forma que

pudesse lança-lo a frente.E clique!

O sapato voou,indo parar em um canto da sala,onde,por acaso,vinha vindo um humano que pegando o sapato,impressionou-se com o seu brilho e com os interessantes desenhos que haviam na superfície do mesmo,como se tivesse sido feitos minuciosos pequenos riscos na parte engraxada,tal como pezinhos de aranha.

A aranha pode ver quando o sapato foi colocado em cima de uma grande prateleira cercada por fotos,bonequinhos e até um interessante sapato alto de cor escura.

Sentindo um grande alegria pelo sapato,soube na hora que tinha acabado de resolver o que deixara pendente,uma vez que quando remendara o mesmo,pode antever seu miúdo corpinho ali embaixo,perto de um grande número 42.Entendendo que o sapato era só um instrumento manuseado por um alguém,pode então perdoa-lo,e foi feliz que sentiu seu corpo se dissipar para entrar nas portas do paraíso.