O Pássaro Dourado (Conto I)

Três crianças brincavam à beira de uma lagoa, sobre a relva, alegremente, em uma manhã fresca de março. Um som mágico, porém, os fez parar. Estavam maravilhados com a beleza daquele canto suave, angelical, que chegava com poder ao mais profundo da alma. A reação natural, quase que instantânea dos três foi correr os olhos pelo campo a fim de identificar de onde vinha aquela música de anjos. Vinha do alto de uma árvore frondosa, muito alta e imponente, que estava na direção de onde nasce o sol.

Os três pequenos caminharam com passos inseguros na direção da música. Ao chegarem bem perto da árvore, seus olhinhos de criança contemplaram a criatura mais extraordinária que já haviam visto. Nunca puderam imaginar que fosse possível existir um ser tão fascinante neste mundo. Um pássaro de penas douradas, de olhos azuis brilhantes como pedras de safira. As pontas das asas tinham penas rubras da cor de rubi. Era aquela ave celestial que produzia aquele canto de deuses. No momento em que as crianças puseram os olhos no pássaro dourado, este imediatamente interrompeu seu canto e voltou seu olhar para os seus novos admiradores. Aqueles dois olhos de safira eram penetrantes e hipnotizantes. Parecia penetrar fundo na alma. O bico de ouro do pássaro então se moveu: "Vocês devem me seguir", são as palavras que saíram de seu bico, de maneira suave, quase um sussurro. Os meninos ficaram atônitos! Aquele pássaro podia falar! Naquele mesmo momento, o pássaro rapidamente abriu as asas e voou, rasgando o ar, passando pelo meio das crianças. Quando elas se viraram para acompanhar o pássaro com o olhar, a paisagem atrás deles havia mudado completamente. Um mundo novo, extraordinário, se descortinou diante de seus olhos. Eles já não estavam mais no campo onde alguns minutos antes brincavam. Era um vale amplo e espaçoso, cheio de rios e riachos, repleto de animais fantásticos, alguns dos quais eles jamais haviam visto.

As três crianças caminharam com o olhar cheio de espanto por aquele estranho lugar. Observaram tudo. Não havia árvores ali. Apenas os montes e as colinas em volta, os rios e riachos, nenhuma grama, pouca luz. Era um lugar triste. Eles começaram a procurar então o pássaro que, de certo modo, os conduzira até ali. Procuraram-no por toda parte, mas não o encontravam. Caminharam por várias horas, atravessando desertos, caminhos escuros e assustadores, até que, pela primeira vez, avistaram uma árvore ali. Aproximaram-se e o pássaro estava ali, repousando sobre um galho, com um olhar calmo. Ele novamente voltou o olhar para as crianças.

— Por que vocês me buscam? Não sou eu que vocês devem procurar. Procurem o Mestre, que é quem pode lhes dar respostas.

Depois de dizer essas palavras, ele voou novamente, na direção de um grande monte, na direção que parecia ser o norte. Os meninos imaginaram que aquela talvez fosse a direção para a qual eles devessem seguir. E foram naquela direção. O caminho era pedregoso, difícil de ser atravessado. Eles caminharam com muita dificuldade, até que chegaram ao pé do monte. Estavam exaustos. Um deles disse: "Deve ser aqui. Onde pode estar o Mestre que nós temos de encontrar?" Uma voz forte, que fez tremer a terra inteira, disse:

— Vocês chegaram. Aqui é o lugar. Eu sou o Mestre que vocês procuram.

Eles olharam em todas as direções, mas não viram ninguém. Então ouviram novamente a voz, que lhes repetiu as mesmas coisas. Até que o mais jovem deles olhou para o alto da montanha e percebeu: "Lá está! O Mestre é na realidade o próprio monte! Vejam!"

E ao olharem para o monte, viram a face do Mestre, que lhes falou:

— Eu os tenho buscado há muito tempo. Preciso de vocês aqui. Só vocês podem nos salvar da destruição que nos tem ameaçado.

— O que aconteceu com este lugar? — Perguntou o mais velho. — Quem causou toda essa destruição?

— A maldade dos homens fez isto. Não há amor, não há compaixão. Pessoas não amam umas as outras. Não há mais quem faça o bem. Não há ninguém. O mundo tem sido dominado pelo egoísmo, a vaidade, o ódio, o desejo de vingança. Os homens têm buscado mais as riquezas que a paz de consciência. E enquanto as coisas forem assim, nosso país sofrerá.

— Como nós podemos reverter esta situação? — Perguntou o outro menino, mais novo que o primeiro. — Somos apenas crianças e não conhecemos as coisas dos homens. O que podemos fazer?

— Apenas vocês têm o poder de mudar esta realidade. E é preciso que sejam vocês, crianças, que ainda não foram contaminadas pela maldade dos homens. Confio apenas em vocês. Vocês podem vencer e salvar o nosso país. E a maneira pela qual vocês farão isto é bastante simples. Mantenham-se puros. Sejam bons. Sejam honestos e fiéis aos seus valores até o fim da vida. Vocês não precisam fazer mais nada além disso. Sejam o que vocês querem que a humanidade seja. Vocês são a esperança de um mundo melhor, mais justo e mais humano.

— Que lugar é este? — Perguntou o menor deles.

— Este é o coração do homem. Este é o futuro da humanidade. Este é o interior do coração de vocês e de seus pais e de todos os homens e mulheres deste mundo.

E o pássaro dourado saiu, como um raio, de trás do monte, na direção do sul. E os meninos o acompanharam com os olhos. Até que o pássaro desapareceu no horizonte e os meninos se deram conta de que estavam no mesmo campo em que estiveram brincando antes de ouvir aquele belo canto.

E aqueles três meninos seguiram seu caminho, e suas vidas, e o mundo seguiu o seu curso. E ninguém nunca soube o nome daqueles três meninos. E eu nunca mais os vi por ali. Nem eles, nem o pássaro dourado.