Cadê o toucinho?

Este conto era minha mãe que me contava. Para isso, punha-me em seu colo; com sua mão pegava minha mão e a esticava com a palma virada para cima. Com sua outra mão, formava uma espécie de bico juntando o indicador e o polegar. E esse bico, formado pelos dois dedos, bicavam a palma da minha mão aberta, enquanto ela começava a historinha, dizendo:

- Cadê o toucinho que estava aqui?

E eu respondia:

- O gato comeu.

E assim, sucessivamente, íamos ela perguntando e eu respondendo:

- E cadê o gato?

- Fugiu pro mato.

- Cadê o mato?

- O fogo queimou.

- Cadê o fogo?

- A água apagou.

- Cadê a água?

- O boi bebeu.

- Cadê o boi?

- Está amassando o trigo.

- Cadê o trigo?

- A galinha espalhou.

- Cadê a galinha?

- Está botando o ovo.

- Cadê o ovo?

- O padre comeu.

- Cadê o padre?

- Está rezando a missa.

- Cadê a missa?

- Está no altar.

- Cadê o altar?

- Está no seu lugar.

E minha mãe terminava dizendo:

- E o lugar? É por aqui, é por aqui, é por aqui, e com os dedos em forma de bico me fazia cócegas.

Essa historinha minha mãe aprendeu com meu avô, que nasceu para aqueles lados da Guarda, em Portugal, que por sua vez deve ter aprendido esse pequeno diálogo com seus pais ou avós.