Giz de cera

Por volta dos meus cinco, seis anos de idade gostava de explorar possibilidades novas em brincadeiras pueris, em geral sozinho, sem abordar adultos; afinal, aquilo eram assuntos capitais meus. Por isso, lá pelas tantas, estou diante dos meus gizes de cera e me pergunto:

- Será que sou tão rápido quanto penso ser?

O ser tão rápido neste caso possuía condições de contorno bastante exigentes para o experimento que começava a se desenhar em minha mente: sentado num dos cantos do sofá da sala eu deveria atirar um giz de cera para o alto e para trás, levantar-me do sofá imediatamente após o arremesso, dar-lhe a volta e alcançar o giz antes que atingisse o chão.

Definidas as regras, me encontro sentado no sofá com o giz de cera na mão. O experimento começa: atiro o giz para o alto mas, antes mesmo de me levantar, ouço um póf atrás de mim. Vou até a origem do barulho e lá está o meu giz de cera, estatelado, partido em três pedaços no chão.

Não deu certo. Refaço meus cálculos: preciso que o giz suba mais alto, para dar tempo de sair do sofá. Então pego meu segundo giz e o arremesso para cima com mais força que o primeiro. Com a força aplicada, o infeliz se espatifa em dois ainda no teto, e um dos pedaços atinge minha cabeça.

Vendo os resultados obtidos até aquele momento com meu experimento, chego à conclusão de que a coisa não vai bem. Foram dois preciosos gizes perdidos e estes não dão em árvores. Mas a ciência merece uma resposta e decido por um último teste. Pego meu terceiro e derradeiro giz de cera, mal me apóio no sofá para facilitar minha movimentação. Tudo pronto, resta-me arremessar o coitado em direção aos ares. Feito o arremesso, saio em disparada para trás do sofá mas... cadê o giz de cera? Nenhum barulho, nenhum movimento... então o vejo agarrado ferozmente à cortina de tule que ficava atrás do sofá, por um fiapo do papel que envolvia o seu corpo cilíndrico. Consolei-me:

- Este pelo menos não se quebrou.

O experimento havia chegado ao fim. Concluí que ser rápido ou não era uma questão secundária e a ciência poderia esperar por uma resposta. O importante era ter giz de cera em condições de uso para os meus desenhos.