Um dia nada normal.

Um dia nada normal.

Num dia como tantos outros, num fim-de-semana de um mês de abril, dois manos viveram um dia muito especial.

A Mariana e o Daniel eram dois meninos traquinas e muito fofinhos. Brincavam todos os dias no jardim perto de casa, corriam atrás das borboletas e adoravam cheirar as flores. Todos os dias adormeciam cansados mas muito felizes.

Os seus dias eram uma grande aventura e quando chegavam a casa contavam à sua avó Maria todas as surpresas que tinham acontecido.

Nesse dia a avó tinha saído e os meninos não lhe puderam contar a grande surpresa. No dia seguinte, ainda antes do passeio no jardim, correram para o seu colo e contaram-lhe.

Sabes avó, ontem o dia foi muito especial, podes não acreditar mas foi verdade, verdadinha.

Não estivesse cá mas deves saber que anteontem choveu todo o dia e eu e a mana não pudemos brincar na rua. Nós queríamos tanto brincar às escondidas e não pudemos, foi um dia um pouco triste mas a mamã brincou connosco com legos e fizemos muitas construções.

Quando a mamã nos mandou para a cama deu-nos um beijo de boas noites disse: sonhos azuis. Eu sorri e sonhei que brincava em castelos encantados sobre nuvens azuis. A mana também me disse em segredo que tinha brincado com um cavalinho azul.

Acordei cedo e quis ver se chovia, espreitei pela janela e o céu estava todo azulinho. Boa podemos brincar na rua!

Corri para o quarto da minha mana e acordei-a.

- Levanta-te depressa, vamos brincar lá para fora. Está sol e a mamã diz que podemos brincar junto ao lago.

Comemos à pressa e abrimos a porta. Surpresa!

Um pássaro azul pousou na nossa árvore. Estranho a árvore também era azul e estava cheiinha de laranjas azuis, iahc não deviam saber lá muito bem. Cheios de coragem colhemos uma e comemos. Afinal sabiam muito bem mas as nossas bocas ficaram todas azuis e com bigodes ainda mais azuis.

Abelhas azuis pousavam nas flores azuis, engraçado ontem eram de muitas cores tínhamos Rosas vermelhas, malmequeres amarelos e outros brancos, saudades roxas, dálias rosa e cravos de muitas cores, mas não me lembro de flores azuis!

Uma borboleta azul pousou no cabelo da mana e eu não queria acreditar. A minha mana era morena mas agora o seu cabelo estava azul-marinho e o meu azul celeste. As nossas roupas… juro que quando estávamos a tomar o pequeno-almoço eram muito coloridas, agora eram todas azulinhas, confesso que estavam muito giras mas estranhas.

Espreitei pela janela e lá dentro tudo estava normal… estranho aqui até o orvalho era feito de gotinhas azuis muito brilhantes. Fomos brincar para o lago e os peixinhos dourados agora eram azuis. Os cisnes brancos eram azul-bebé e os pretos azul-escuro. Tirei do bolso o resto das migalhas de pão que sobraram do pequeno-almoço, estavam azuladas mas eram boas na mesma, e dei-lhas para comerem. Devoraram-nas num instantinho, estavam esfomeados os coitados.

Colhemos um grande ramo de flores azuis, de muitos azuis, para dar à mamã.

Fomos andar de baloiço. Sabes que a tinta está a sair e ficámos com rabinhos azuis. A mana tropeçou e ficou coberta de terra azul sujo, coitada. Vê lá que fez um dói-dói e deitou um pouco de sangue azul. Eu até pensei que se calhar nós tínhamos mesmo de sangue azul como tinham os reis. Era tão bom sermos um príncipe e uma princesa. Engraçado avó, tu serias uma rainha, a nossa rainha boa que nos dá miminhos e doces.

Durante todo o dia tudo esteve azul e nós brincámos que nem uns tontinhos fizemos bolos de lama azul, almocinhos azuis e sumos ainda mais azuis, até os meus carrinhos e as bonecas da mana eram azul-turquesa.

O nosso dia foi tão divertido que nós não nos íamos importar de continuar assim por muito tempo e não fazia mal ser tudo azul. Eu até pensei que amanhã podia ser tudo rosa, depois amarelo, verde… Que giro seria se daqui para a frente só houvessem dias coloridos, podíamos dizer que os dias seriam arco-íris de felicidade.

Esta noite dormimos muito bem e até os nossos sonhos foram azuis.

De manhã saímos dos quartos, comemos depressa e saímos a correr com desejo de mais um dia colorido.

Quando vimos que as cores eram as de todos os dias ficámos muito tristes. A mana até choramingou um pouco e eu tive de lhe dar um abraço muito apertadinho e dizer-lhe que hoje quem escolhia as brincadeiras era ela. Fui ao jardim e colhi uma flor de cada cor, fiz um lindo ramo e fomos colocá-las numa jarra na sala. Assim o nosso dia ficou mais colorido e perfumado.

Sabes avó foi tão estranho que ainda pensei se teria sonhado? Não, fui espreitar o calendário na parede e ele mostrava que era mesmo amanhã.

Avó, segunda-feira voltamos para a escolinha. Se eu contar aos nossos amigos eles vão pensar que estou a inventar ou então a mentir. Se calhar devo começar por era uma vez? Assim eles vão pensar que é uma história e não me chamam nomes.

A avó Maria sorriu, abraçou os netinhos cobrindo-os de beijinhos.

Ela tinha-os ensinado a acreditar em magia e a encontrá-la em tudo o que os rodeava e, mesmo assim pensou se afinal esse dia tinha acontecido… quem sabe?

Fortunata Fialho

Fortunata Fialho
Enviado por Fortunata Fialho em 07/03/2021
Código do texto: T7200735
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