O bebê depravado

“E vós, pais, não provoqueis a ira dos vossos filhos...”

Trecho da Carta de Paulo aos Efésios

Papai resolveu puxar um papo “super” importante com seu nenenzinho – isso mesmo, ele era um recém-nascido de três meses que se expressava desembaraçadamente, e mais, tinha a espantosa capacidade de raciocinar por si próprio, sabia formular perguntas desagradáveis, tecer comentários ácidos e encontrava sempre conclusões originais para as grandes questões da vida.

Aqui abro um parêntese para informar que a história do bebê orador, filósofo e profeta já fora antes, exaustivamente contada em diversos folhetins (verificar os arquivos da Ordem dos Jogadores de Avelórios).

O pequeno portento estava no berço a observar os planetas do sistema solar pendurados em um mobile, nenhum dos planetas o atraia atenção como Saturno, tão diferente dos outros, por causa de um anel que o envolvia; neste instante, chega papai, ansioso por abrir a boca e dizer qualquer coisa:

- Meu bebezinho, você sabe como veio ao mundo?

- Eu suponho que sim!

Sem considerar a resposta do filho, papai continuou:

- Então, vou te contar como o Senhor Cegonha veio pelos ares e....trouxe você e colocou na barriga da mamãe e...

Foi interrompido pelo bebê, que olhava através dele, absorto.

- Só posso supor que o Senhor Cegonha “comeu” a mamãe! Ah, eu sabia!

Papai desconcertado, tentou continuar mentindo.

- Não! O Senhor Cegonha trouxe você e colocou na barriga da mamãe, foi mágico!

- Está enganado Senhor! Se me permite, vou explicar a minha teoria: por alguma razão hedonista, a cegonha macho introduziu o pau na buceta de mamãe e friccionou como um bate-estaca, até que finalmente gozou e algumas semanas depois, eis-me aqui!

Papai, depois dessa, nunca mais veio com conversa fiada prá cima do bebê degenerado.