ACREDITE - UM CONTO DE NATAL

Pedro não conhecia nenhuma criança da sua idade ou mesmo mais jovem, que ainda acreditasse no Papai Noel. Claro que em seu tempo ainda havia quem acreditasse no bom velhinho, ele só não conhecia ninguém.

Mas ele, com 10 anos, cria tanto na presença do barbudo de roupa vermelha que decidiu esperá-lo na noite de Natal. E sabia que o veria. Ia provar ao mundo que São Nicolau existia e assim acabar com essa grande farsa de que crianças são mentirosas, fantasiosas e iludidas.

Era quase uma hora da madrugada e nada do Papai Noel chegar. Sem esperança Pedro tomou o leite do copo e comeu os cookies que estavam no pratinho. Presentes para o herói do Natal. Em seguida um tremendo estrondo se deu e o barulho ecoou por toda a sala, precedendo uma nuvem volumosa de carvão e cinzas vindos da chaminé.

Era ele. Estava chegando. Seu coração pulou no peito. Suava frio. Tentou limpar as migalhas dos cookies, mas percebeu a irrelevância da sua ação logo em seguida. Que diferença migalhas fariam se não existiam mais cookies?

O homem místico do imaginário de todas as crianças, erguia a cabeça e farejava o ar como um lobo atrás da presa.

- Criança. Cheiro de criança. Eu sinto. Isso é ruim. Muito ruim. Aí está você, pestinha. - Anunciou ele ao investir contra a cortina num movimento brusco para abri-la, revelando Pedro que se escondera atrás dela.

Sem reação, o menino encarava o verdadeiro Papai Noel na sua frente. Sem gorro vermelho nem sorriso simpático. O Papai Noel era um elfo baixinho de nariz comprido e pontudo, óculos de lentes ovais e cabelos brancos longos e esparsos, escassos, que escorriam pela testa. Sua roupa era ornamentada, vermelha e cheia de bordados e costuras bem trabalhadas, verdes e douradas, tudo com o tema natalino. Usava um cinto, como o cinto de utilidades do Batman. Martelo, chaves, alicates, canivete suíço e muitos badulaques.

- Você é o Papai Noel?

- Papai Noel? Papai Noel? Há há há há há há há há há! - A criatura ria solta, com as mãos nos joelhos. Às vezes chegava a lhe doer a barriga. E quando Pedrinho ameaçou escapar, ele o capturou.

E depois de fazer Pedrinho urinar nas calças em uma verdadeira cena de terror, o elfo o deixou pequenino, do tamanho de um rato, o amarrou numa corda e deu a volta com a outra ponta dela em sua cintura. Colocou os presentes naquela árvore e ao perceber que ficou sem leite e cookies, irritou-se, mas seguiu seu caminho. Pois estava bastante atrasado.

O menino feliz, que queria provar para o mundo que o bom velhinho existia, agora sofria terrivelmente pelas consequências da sua curiosidade. A corda solta o projetava para fora do trenó e ele batia às vezes em pássaros, era transpassado por nuvens, que nada lhe infligiam, mas que assustavam, e sempre era abalroado pelo trenó. Seu corpo estava tão dolorido que era como se tivesse apanhado uma surra.

Numa das casas, ao passar pela chaminé, seu corpinho diminuto foi esfolado pelos tijolos duros e ásperos e ao cair no carvão ele ficou todo preto. Na casa, enquanto o Papai Noel colocava os presentes na árvore e fazia seu lanche merecido, ele se escondia se tremendo todo, com medo até da sombra. Mas essa noite não seria fácil para o nosso Pedrinho, que passou a ser perseguido por um cachorro furioso que achou que ele daria um belo petisco. Levou uma mordida no pé e perdeu um sapatinho, mas conseguiu se livrar se escondendo debaixo do sofá. Depois que recuperou o sapato eles foram embora dali.

No final daquela noite aterrorizante, Pedro foi deixado em sua casa. Papai Noel estacionou o trenó sobre a chaminé e o deixou cair. De manhã, todos alegres abriam os presentes. Mas não havia presente para ele. Seus pais boquiabertos não sabiam dizer o que tinha acontecido. Mas ele sabia. Chorando ele se afastou enquanto todas as crianças contentes divertiam-se com seus brinquedos.

Debaixo do pratinho dos cookies um envelope lacrado e selado. Ele abriu e leu:

"Caro, Pedrinho.

Papai Noel existe e sempre existiu. Mas para a magia acontecer é preciso ter fé. Ser criança não é ser desacreditada ou ser boba, mentirosa. Quem pensa assim é que deixou de ser criança e alguém assim é muito triste. Desça até o porão e dentro do armário você terá o seu presente. Lembre-se da lição. Nunca mais duvide da fé. Existem coisas que devem ficar escondidas para serem sentidas."

O presente de Pedrinho foi o mais especial que uma criança já recebeu no Natal. Uma pedra azul brilhante e rara, única na verdade. Ao passar a mão nela ele via todos os reinos encantados e místicos. As criaturas, fadas, duendes e também a terra do Papai Noel. Quem quer que usasse a pedra a não ser ele, só veria uma Pedra. É porque a magia estava nele e não na pedra.