Só se ulula por amor.

A cama era de pedra, os lençóis de espinhos perfurantes, os travesseiros abismos onde sua alma em prantos se perdia; mas a isso já se acostumara. Jamais se acostumaria, entretanto, com o sentimento que o fazia tornar-se tão horrivelmente cruel, rejeitando aconchego a seu corpo.

Ao deitar-se, quando soltava finalmente as rédeas com que continha a fantasia, era o corpo dele que vinha se mostrar hologaficamente à sua volta, mostrando-se, exibido-se inocentemente como fazia sempre, perturbando a vida mortal sem se dar conta disso, despertando nela um desejo tão lacinante e intenso que dobrava seus joelhos e a fazia implorar por um pouco de tudo aquilo, se pudesse; mas, ela não podia. Perturbava-lhe o fato de saber impossível, perturbava-lhe o fato de saber não ser possível. Não havia no mundo quem lhe fosse mais proibido, menos possível e mais perturbador, pensava aterrorizada, no fundo do abismo de pedra que era sua cama. Cunhado, irmão de mentira.

E deu para ulular em festas; uivos dolorosos e lacinantes, como só as lobas mais apaixonadas e no mais louco cio o fariam. Ela tem a esperança secreta de que ninguém entenda.