Conto de nascer e ser
CONTO DE NASCER E SER
Vinte e dois de Março logo ao inicio do trabalho recebi sonoros, estridentes e electrónicos sinais no tom mais alto que usar se pode no TM, celular,e uso a compensar a audição que a idade afecta e até não só.
Surpreso li no écran; "PARABÉNS".
Pensei-me alvo de algum marketing selvagem, oferecendo apartamento no Algarve, safari no Quénia ou jantar com uma estrela. Até pensei naquela do crime do Padre Amaro... Ui !
Mas desligando o sonho e apagando a estrela recordei:
- Nevava muito quando eu nasci, meu Pai descurou o registo. Tinha de ir à Vila, o cavalo tinha tropeção, a estrada da Veiga à Vila subia sempre rematando em íngreme calçada e, enfim adiou.
Quando lá foi o Conservador, amigo de meu Pai, por preguiça, por uso ao tempo ou por confiança e há que confiar nos amigos, pronunciou o veredicto e registou-o.
- Ó Doutor, o varão nasceu hoje para todos os efeitos! Vai para a escola e para a tropa mais tarde, tem tempo!
E assim foi, e assim fui perante a lei nascido a vinte e dois de Março, Primavera.
Da maternidade caseira no solstício de Inverno à Conservatória pública no equinócio da Primavera, hibernei três meses.
Acordei mais novo para efeitos legais.