Conto de nascer e ser

CONTO DE NASCER E SER

Vinte e dois de Março logo ao inicio do trabalho recebi sonoros, estridentes e electrónicos sinais no tom mais alto que usar se pode no TM, celular,e uso a compensar a audição que a idade afecta e até não só.

Surpreso li no écran; "PARABÉNS".

Pensei-me alvo de algum marketing selvagem, oferecendo apartamento no Algarve, safari no Quénia ou jantar com uma estrela. Até pensei naquela do crime do Padre Amaro... Ui !

Mas desligando o sonho e apagando a estrela recordei:

- Nevava muito quando eu nasci, meu Pai descurou o registo. Tinha de ir à Vila, o cavalo tinha tropeção, a estrada da Veiga à Vila subia sempre rematando em íngreme calçada e, enfim adiou.

Quando lá foi o Conservador, amigo de meu Pai, por preguiça, por uso ao tempo ou por confiança e há que confiar nos amigos, pronunciou o veredicto e registou-o.

- Ó Doutor, o varão nasceu hoje para todos os efeitos! Vai para a escola e para a tropa mais tarde, tem tempo!

E assim foi, e assim fui perante a lei nascido a vinte e dois de Março, Primavera.

Da maternidade caseira no solstício de Inverno à Conservatória pública no equinócio da Primavera, hibernei três meses.

Acordei mais novo para efeitos legais.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 05/10/2008
Reeditado em 16/10/2008
Código do texto: T1212680
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