ELA

Sem qualquer motivo, saiu de casa. Decidiu caminhar. Espairecer a mente enquanto as pernas o levavam a imensidão do nada. Não havia para onde ir, ou mesmo voltar. Pés cansados. A alma pequena esvaia-se do corpo, pouco a pouco. Ele não percebia que aquela estrada era repleta de espinhos que arrancavam-lhe o sangue a cada passo.

Houve momentos em que gostaria de parar, mas era impossível, ele e a imensa estrada se tornaram um só. Seu sangue estava ali, a cada centímetro percorrido.

Mas, sempre que erguia os olhos e percebia a infinita estrada que resolvera percorrer, as pernas fraquejavam e uma sensação desagradável lhe atravessava o corpo, tirando-lhe toda a força.

Certa vez gritou. As lágrimas corriam pelo rosto avermelhado enquanto soldados romanos aproximavam-se. Chicotadas terríveis aquelas, arrancado-lhe a carne. E caído, ele quis desistir.

“Ás vezes não temos nada além de nossas feridas e o caminho interminável que nos levam a sonhos, que no fundo, não passam de sonhos.”

Chorava sozinho, enquanto sentia a terra invadir a boca. Um filete de saliva prendeu sua atenção melancólica durante horas. Ele havia desistido.

Ela chegou, com seus passos pequenos de bailarina. Ela chorava, sempre chora. Com suas lágrimas, lavava o sofrimento da terra. Agachou-se com delicadeza e tocou-lhe os cabelos. Quis olha-la, mas não o fez. Ela deitou-se ao seu lado e sorrindo sussurrou em seu ouvindo. “Então...quando voltamos a caminhar?” E Ele sorriu satisfeito, beijando-a.