Marca
Ele não percebera. Ela também não. Ambos dormiam e
mesmo assim aconteceu. Ele, dentro de seu sono
consciente dera-lhe um soco. Não desses comuns que
pessoas agitadas distribuem ao longo da noite, mas um
preciso. Foi um soco bem na altura do peito,
mais ou menos onde deveria abrigar-se o coração, esse
já bem caceteado. Ela não percebera porque
sonhava e o sonho a deixava tão embriagada e
anestesiada para as coisas do mundo... que não acordou.
Levantou, porém, naquela manhã , num estado de torpor
que se permitia entregar algumas vezes. Sem saber,
viu-se no espelho. Trazia no peito do dia seguinte a
marca violeta do basta inconsciente da pessoa que
dormia sempre ao seu lado. Ele. Marca que denunciava
o que ela não queria saber...
Pensou que não poderia ficar indiferente ao símbolo
violeta estampado que agora trazia no peito.
Afastou-se dele, sem mais palavras, porque a cama já
não abrigava e a dor violeta gritava e ela já não
conseguia esconder.
A marca acompanhou-a por um bom tempo. Seguiu com
precisão as cores já desbotadas do que estava por
dentro e tratou de cuidar, apenas com o olhar, sua
evolução multicolor.
e continuou.... porque esse músculo que
sofre com o que se sente, só para no final.
E esse, ainda lhe batia.