EU

Ainda podia ouvir a porta bater no fim do corredor. O som ainda ecoa dentro de mim, e ricocheteia pela casa.

O silêncio mórbido parece ser meu maior companheiro. As lágrimas teimam em riscar o rosto pálido e estático. O coração retumba dentro da caixa torácica, a sensação incomoda. Ainda não acredito no que aconteceu.

A torneira da cozinha goteja. Um carro a diesel passa lá fora – som inconfundível os dos motores a diesel –. Por um momento penso estar a ponto de explodir, minha alma procura por Deus, ou pelo menos queria desesperadamente abandonar meu corpo.

Pensar em se matar é fácil, já pensei nisso. No fundo achava merecer uma morte lenta e dolorosa, mas falta-me coragem.

Mais uma vez a porta batia no fim do corredor. Era a mente machucando o coração. Olhei para a porta.

Lembrava das palavras confortantes; “ela vai voltar.” Mas sempre soube que não.

Tenho o gosto das coisas importantes da vida, um pedaço da memória que nunca vamos esquecer. Só para nos dar aquela sensação nostálgica de que boas coisas existem, mas nunca são eternas.