Bicho raro.





Os filhos foram estudar fora. Formaram e se casaram. Não voltaram. O casamento acabou. A casa grande e vazia, resolveu mudar de cidade. Voltar as raízes que pensou tivesse arrancado. Na hora da mudança é que descobriu o tanto que entulhara a vida. Resolveu desfazer de muita coisa, inclusive os livros. Eram tantos e tantos, mais pareciam comprados a metro. Um de seus vícios. Doou quantos pode. Mas o que levou para a nova morada ainda era muito. Uma biblioteca para nenhum rato colocar defeito. Ciumenta, cuidava deles com tal zelo que mais pareciam bichinhos de estimação. Cães e gatos. Já que tinha mudado de casa resolveu também mudar de jeito. Os vizinhos, moradores do prédio, eram gentis. Sorrisos e cumprimentos em corredores e elevadores. Escreveu treze cartas, uma para cada moradia. Convidando-os para irem a sua casa e pegarem seus livros emprestados. No dia seguinte, ninguém mais a cumprimentou. Os sorrisos foram engolidos. Cabeças baixas, a ignoraram. Era um bicho raro. Animal em extinção. Um ser que lê e pensa. Assusta. (30/07/09)