Maluquinha

Olhos não se fixam em ponto algum.

Membros se mexem incessantemente, descoordenados.

A baba escorre da boca, junto com o alimento.

Emite sons e não palavras.

Estranha pessoas estranhas.

Gosta do que se mexe e tem cor forte.

Berra, chora, ri.

Nossa cultura não lhe diz nada, embora a infestemos dela.

Não respeita diálogos nem discurso de autoridades.

Adora ficar nua a qualquer momento.

Tem uma moral que não explica, mas se expressa em pureza tão simples que até chamamos de irreverência.

Despreza bens materiais por achar tudo um brinquedo que envelhece.

Não procura seu eu interior, pois não sabe que o tem para saber que pode perdê-lo.

Vive fascinada.

É lindinha.

Está aprendendo a sentar.

Logo estará engatinhando e depois ensaiará seus primeiros passos

até sair andando por aí.

Ela é nova para nós.

Nós somos novidade para ela.

1987,

para minha filha Luara, no seu primeiro ano de Vida.

do e-livro A TERCEIRA TRIBO