DOIS VULTOS NA JANELA

Eu sabia que estava em casa porque via a luz acesa. Estava apaixonado. E não via a hora de ela chegar da escola para sentir a sua presença ali, pertinho, mesmo sem saber de mim.

Mas os dias foram passando e vi que tudo estava às escuras. Parecia que a casa fora abandonada. Fiquei intrigado. Perguntei aos vizinhos e me disseram que à noite, lá pelas onze, ela chegava sempre sozinha. Até aqui, nenhuma novidade.

Então, intrigado, passei a observar melhor, o que nunca deveria ter feito. Numa clara noite de lua, vi o vulto de duas pessoas se beijando, se comprimindo contra a vidraça da janela, o que pôs fim às minhas esperanças.

Fiquei louco de ciúmes. Um turbilhão de pensamentos invadiu a minha mente. Instintivamente, peguei uma pedra e atirei nas vidraças. O barulho de cacos de vidros sendo estraçalhados perturbou o silêncio da noite, ao mesmo tempo em que as luzes da casa se acendiam.