O AVARENTO


Alfredo Frederico Máximo era um pacato cidadão.

Bom sujeito, só tinha um defeito: era avarento.

Levava vida muito simples mas, embora poucos soubessem, era milionário.

Morava numa comunidade muito precária, na periferia da sua cidade. Vivia ali porque assim deixava de ter que pagar pela água e pela luz que consumia.

Seus herdeiros o admiravam e o incentivavam a radicalizar cada vez mais naquela sua sabedoria.

Quando o governo ameaçou de taxar os rendimentos da poupança, revoltou-se e entrou em depressão pois quase não dormia. Quando o governo desistiu dessa cobrança, sarou e comemorou com um copo de água, com gás!

Um dia realizou um sonho que o perseguia desde o nascimento: aproveitou a presença do Tribunal Judiciário Itinerante das Pequenas Causas, foi à pé até o trailler estacionado à uma quadra da sua moradia, economizando até mesmo a condução, e modificou o seu nome no registro civil.

Passou a chamar-se Fred Rico Mínimo. Voltou para casa feliz e realizado.

Independentemente de ser isto ou aquilo, de ter muito ou de ter pouco, um dia, inesquecível somente para os seus herdeiros, Fred Rico morreu.

No seu velório, pouco concorrido, seus herdeiros consolavam os pouco presentes com o dito popular: "na vida a única certeza que temos é a morte".   Mas, entre eles, com um sorriso disfarçado e irônico, cochichavam: "O Fred morreu, antes ele do que eu".

No seu túmulo, hoje abandonado e nunca visitado, na lápide, feita com antecedência e de graça por um pedreiro amigo seu, consta o que ele mesmo escolheu, como testemunho, experiência de vida e sugestão para uma vida útil, gratificante, de muito sucesso e feliz: fui!
Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 14/10/2009
Reeditado em 17/10/2009
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