o peixe
O peixe um dia acordou na profundeza mansa do atlantico,
Quando notou no deserto monótono das águas
Um verme preso na sedução radiante de um anzol,
Abocanhou impiedoso e com volúpia a refeição
E descobriu de maneira dolorosa o ardil humano
O peixe então conheceu a superfície, e um oceano diferente daquele
Que conhecia, o ar não lhe pertencia mais e sua boca doia
O peixe adormeceu profundamente e com um sofrimento calado
Pois não sabia gritar e nem gemer
Embora tenha sido polpado de sentir sua carne arder no inferno
De uma frigideira
Nem mesmo pôde acompanhar seu esquartejamento ao sabor de
Alho, óleo, sal, limão e farinha e ter sido dissecado sem precisão
Ao labor de garfos, facas e dentes
O peixe pode ter se sentido santificado por saciar a fome daquele e homem
Sua mulher e seus filhos, ou pode ter se sentido vingado
Quando o pescador se afogou com a mais pontuda de suas espinhas
E preocupado mulher e filhos
O peixe foi diminuido a compostos nitrogenados, em entranhas escuras
E nunca saberemos se tem ainda pretensão de ser peixe de novo,
Mas provavelmente aguarde o reincaixe das peças para não nascer nem verme nem peixe novamente