SILÊNCIO*

Era músico. Sempre que podia animava as festas e celebrações com seu dom. O saxofone o acompanhava por onde fosse. Em família, sempre marcava as festas com uma ou duas canções. No Natal, e outras festividades, o som forte de seu instrumento ecoava a força de seus pulmões e a maestria de seu talento. Era querido por todos. Desde cedo aprendera uma música chamada "Silêncio", do grande compositor judeu de origem russa, Ratnevni Ed Iebaca. Sempre que possível a tocava. E quase sempre insistiam com ele para que a tocasse. Sua mãe era a principal fã: "filho, quando morrer quero que você toque "Silêncio" para mim..." O filho desconversava. Amava a mãe e a queria por perto sempre. Até que ela se foi. Ele cuidou dos papéis, do velório e de tudo mais. O cortejo estava saindo para o cemitério quando um irmão seu apareceu com o instrumento: "toca, Paulo, mamãe sempre lhe pediu isso!" "Tudo bem, vou tentar..." A emoção era grande. Ele achava que não iria conseguir. Enquanto ajeitava o instrumento, e preparava a embocadura, todos postaram-se paralisados, emudecidos. E ele começou a tocar "Silêncio" enquanto todos reverenciavam a partida de sua mãe. Lágrimas escorriam pelo olhos. Lenços flanaram nos ares. Quando Paulo terminou a última nota, sua emoção prevaleceu. O instrumento era de sopro, mas as cordas do coração não resistiram. O enterro foi no dia seguinte.

*Conto feito as pressas para comemorar o conto de nº 5.000 do Recanto das Letras.

ALEX GUIMA
Enviado por ALEX GUIMA em 16/07/2006
Reeditado em 13/01/2024
Código do texto: T195294
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