LOBOS  DO  ASFALTO


Jamais esperava ver ali, em plena Avenida Paulista, aquele trágico cenário de
cinema com censura para menores de 14 anos. Tratava-se, pois, de grave
acidente, ou colisão de veículos com morte explicita de pedestre. Sanguinolenta
cena,  com extensa e eclética platéia.  O cronômetro da movimenta vía urbana,
assinalava  três horas e dez minutos de uma segunda-feira,  começo de alegre
primavera.

O quadro em questão  caracterizava-se, segundo os comentários que corriam
pela multidão de expectadores, por atropelamento seguido de colisão.

Estendida no asfalto, uma bela mulher, sem um mínimo sinal de vida  e,
aparentando idade  entre 40 e 45 anos,  bem  vestida mas  tristemente
descomposta pelo inusitado  acidente. Segurava  firmemente  uma rica coleira,
provávelmente da encantadora Poodlo, próxima  dela, imóvel  e com  visível
sangramento  originado por certo de algum estrangulamento interno.  Chorava
sofrida, como a pedir socorro à  sua guardiã.  Estando esta última, de olhos
abertos  com o olhar fixo no infinito espacial, pela derradeira vez, e  por  isto,
não mais dava conta do que ocorria  a sua volta.

No tumulto do cenário, dois guardas de trânsito se esforçavam por  manter  a
ordem,  tomar as providências de praxe e principalmente impedir saques,
relativos aos objetos espalhados no asfalto, bem como de evitar a  violação do
corpo da vítima, no tocante  a roupas, jóias e adereços de  valor.

Eu, estava de passagem na grande metrópole por apenas alguns  dias e  já
ouvira de alguém, sobre esse sinistro e bárbaro procedimento  de  algumas
pessoas. Não sei classificar  essa espécie de pessoas,  mas creio ser uma
pequenina porcentagem, é claro!  E agora presenciava "in loco" e numa via
urbana da grande metrópole, aquilo a que ouvira e me recusava  a acreditar.

E fui levado a pensar:  Estará hoje, parte da humanidade, voltada para  ações
de um passado tão distante, no qual predominava o direito da força  sobre a
força do direito?  As guerras cruentas pela subjugação e escravização dos
homens,  o canibalísmo, chegando  até a profanação de cadáveres.  Sendo
este último,  um ato repugnante que tem voltado a ser praticado nos tempos
 atuais e sob a bandeira do mais extraordinário progresso humano  já
alcançado  pelo  homem.

-Afinal, quem somos nós?
jray
Enviado por jray em 26/12/2009
Código do texto: T1997169