Culto ao amor

Enquanto regava as flores do jardim buscava as mais remotas lembranças. Os vestidos sonhados, o baile, o primeiro beijo. Este não tinha como esquecê-lo, ocorreu de forma tão repentina e com a pessoa sonhada. Vieram depois o casamento, os filhos, netos e os reumatismos.

- Vó de que você está rindo?

- De nada, querida! Vieram-me apenas algumas lembranças – coisas bobas.

- Não são tão bobas assim, vó. Estou observando você há mais de quinze minutos.

Deixou o regador. Encaminhou-se para junto da neta. Assentou-se. Chamou-a para que a fizesse companhia.

- O amor é mesmo a coisa mais linda deste mundo. Quando se está amando o coração fica mais leve. Você quer sempre a pessoa amada do seu lado.

- Entendo o que você quer dizer, vó. Mas confesso-lhe que embora eu namore há bem tempo, não sinto tudo isso.

- É porque você não o ama, querida. Sugiro que faça uma análise desse relacionamento. Provavelmente estão perdendo tempo e deixando a vida passar. E a vida é preciosa demais para se perder um só segundo.

Seguindo os conselhos da avó, encontra-se com o suposto amado e propõe-lhe uma conversa mais séria. Concluíram que a separação ser-lhes-ia proveitosa. Decisão inteligente: ambos descobriram o amor e passaram a cultuá-lo...