Carta

A cabeça latejava e os joelhos mostravam-se debilitados e viscosos. O coração pulsava instável e desenfreado no meu peito. Sentei-me, as pernas cruzadas e o cabelo desarrumado. Os meus dedos agarravam um lápis e este deslizava de modo suave pelo papel. Escrevia-te palavras, palavras cheias, vocábulos que eram neste instante açodados e imediatos. Sabia, sabia-o, tinha conhecimento de que tinha que fazer alguma coisa, mas o que? O grafite ia ficando no papel em rabiscos estranhos e à medida que o papel ia ficando cheio o meu coração revoltava-se e pulsava cada vez mais dominado pela fúria. Considerei estranho, considerei-me estranha. Escrever sempre me aclarou as emoções, sempre me recuperou a vista quando esta se escurecia pelas lágrimas; desta vez, sucedia o oposto. Não queria chorar porque chorar seria excessivamente doloroso. Não queria derramar lágrimas, não novamente. Enchi a folha e estagnei. O único som perceptível era o da minha respiração. O coração martelava-me agora o peito, os meus olhos ficavam cheios de água, mas suportei-me com bastante força. Pensei em rasgar a folha aos bocados, pensei em dobrá-la e ocultá-la na última gaveta da cômoda, pensei em fazer riscas tudo. Mas nada disso era o que eu desejava, o que o meu corpo e os meus braços e as minhas mãos e os meus dedos desejavam ardentemente por fazer era embrulhar essa folha insignificante, era pô-la dentro de um envelope bonito, era fazê-la ir até ti não interessava como. Dirias-me: Ninguém escreve cartas, capta só o tempo que isso ia tardará a chegar. Mas eu não sou ninguém e eu desejo escrever-te, pode ser? Deixa-me ser eu a tomar uma decisão, por obséquio. Escuta, ou melhor, lê tudo o que te escrevi, lê tudo o que te desejo falar. Lê tudo, vá lá, faz uma força, torna calmo o meu coração. Lê tudo e vê se entendes. Vê se entendes, de uma vez por todas, o quanto te amo.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 06/03/2010
Código do texto: T2124050
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