O fim de Aparecida

Nos anos 80, Aparecida (uma cadela vira-latas com

resquícios de sangue alemão, algo pastoril) achou que o

conjunto habitacional Malibu, no Capão da Imbuia, em

Curitiba, seria um bom lugar para viver.

Teve boa acolhida da criançada e de algumas mães

benevolentes, até alguns pais menos embrutecidos. Tornou-

se o bicho de de estimação comunitário, gostava de todos e

todos a amavam.

Todos não. O pai do Anderson e da Mariazinha não gostava

de nada, nem de si mesmo. Pior, ele não gostava nem da

idéia de gostar de algo.

Num domingo de sol, raro na Curitiba daquela época, diante

de quase todas as crianças do conjunto, o infeliz e

alcoolizado ogro assassinou Aparecida com uma ripa.

Mesmo sob protestos, o criminoso não se deu por satisfeito

enquanto não esmagou o crânio da pobre criatura. Se

fôssemos adultos, não, digo, se fôssemos grandes ele teria

o mesmo fim. Ou melhor, não teria nem começado.