ESTRANHO FUNERAL

Trajou-se toda de preto. Trancou a casa inteira. Não queria ver ninguém. Estava desolada e chorava desconsoladamente diante daquele ser que um tivera vida e que tanto a amou também.

Ficou a contemplá-lo por alguns minutos, completamente mergulhada em lembranças. Depois, cerimoniosamente, ajoelhou-se, apoiando-se no sofá, e debruçou a cabeça no braço direito, chorando. Sentiu os pingos quentes das lágrimas penetrarem o tecido fino da manga da blusa, escorrendo em sua pele.

Alguns minutos depois, enxugando os olhos com as costas da mão direita, deu por encerrado o funeral e encaminhou-se para o quintal da casa, onde ela mesma cavou a sepultura.

A noite caía.

Uma chuvinha fina banhava as folhas das plantas do jardim, tornando-as ainda mais pesadas com o vento que soprava de vez em quando.

Toda molhada e suja de lama, ela voltou para a sala, agora completamente mergulhada na escuridão. Somente o silêncio fazia companhia a ele. Olhou-o longamente. Sentiu a sua imobilidade mortal. Mais uma vez, lágrimas encharcaram os seus olhos vermelhos de tanto chorar.

Em seguida, ergueu a caixa de sapatos onde o seu estimado gatinho jazia e, contra a vontade, foi enterrá-lo.