SEGUNDO ATO: MEDO


Ele entrou em casa.
Olhou tudo como quem nunca houvera participado daquele ambiente.
Sorriu para ela,
Deu-lhe um beijo frio, talvez quente pra ele.
Acendeu um cigarro.
Procurou o cinzeiro.
Foi encontrá-lo na cozinha.
Admirou-se da bagunça,
Sorriu como se nada tivesse enxergado.
A casa, contudo, ainda continuava vazia,
E os dois ali
Vivendo como que estranhos
Sem palavras,
Sem alegria,
Sem recriminações,
Sem incentivos.
A casa era o local de depósito dos corpos.
As emoções não cabiam naquele compartimento.
Vez por outra os olhares se cruzavam,
Risos forçados.
Olhares reprimidos de falas.
Olhares mal falantes,
Maliciosos,
Duvidosos.
Uma timidez nunca antes experimentada.
Ele duvidou que poderiam continuar com o mesmo lençol.
Trancou-se no quarto, adormeceu.
Deixou para depois uma conversa adiada havia anos.
Na sala debruçada na mesa ela também adormece.


Este é o Segundo Ato do Conto minimanista: 
"A vida a dois em atos", escrito em 1980. 
Leiam também o Primeiro Ato: O AMOR
Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 05/10/2006
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T256632
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