CONTOS MINIMALISTAS

A FESTA

Música. Convidados. A decoração fora planejada com esmero, conforme o gosto de Daniela. Uma montanha de presentes. A família, os amigos, a banda de rock mais famosa do país já estava no local. O vestido branco. Tudo perfeito.

O telefone. Daniela desfaz o penteado, troca o vestido de festa pela calça ‘jeans’ e foge.

VARIAÇÕES

O curandeiro africano morreu. Uma multidão se acotovelava em volta da cabana. No mesmo instante, muitos juraram ver um leopardo deslizando para fora da casa.

Alegria e som de tambores.

CAMINHOS

O menino estava com dois meses. O vento zunia entre as frestas do casebre, a enchente levara quase tudo, menos a fé. A mãe aquecia a criança com mãos ásperas e rachadas do frio. Uma vizinha, condoída, ofertou agasalhos, o bebê foi enrolado num puído casaco de lã; seus pequenos olhos já espiavam o mundo.

Cinqüenta anos após, brilhará um grande estadista.

A ESPERA

Eles virão. Pensa a anciã, enquanto perfura o tecido com a agulha; obediente, segue a linha verde-musgo, desenhando o pequeno caule que nasce do fundo neutro. As fotos espalhadas e sorridentes atestam sua lucidez.

A campainha. Sobressalto. A agulha penetra no dedo. Não sangra, pele encouraçada. A mulher de branco abre uma maleta. O bordado continuará.

Rosa Dias
Enviado por Rosa Dias em 07/10/2006
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