A estrela que não posso esquecer

Permanecia assentada num banco do jardim. Tinha terminado de ler outra vez um dos cem sonetos de amor de Neruda e, abstraída, reparava os girassóis. Subitamente, um deles girou o seu caule e a disposição da flor permaneceu virada exatamente para a direção oposta à do designado Sol. Contemplei os outros girassóis e todos tinham concretizado o mesmo deslocamento. Por momentos, renunciaram ao astro rei e foram atrás de uma outra estrela. Ainda intrigada, sem compreender bem o que estava a suceder, o meu olhar, da mesma maneira, os seguiu e foi aí que a contemplei.

A primeira sensação que tive, ao observá-la, foi uma inesperada constrição de todos os músculos do meu corpo.

Tudo o que permanecia ao meu redor deixou de existir. Naquele momento apenas via uma grande claridade, de uma alvura extrema, que a cobria de modo completo.

Tinha os cabelos da cor do ouro que descaiam, pelos ombros, em delicados cachos. Da sua bonita face sobressaiam uns olhos azuis, como pequenas ágatas, e os lábios, tão delicados, que diria esculpidos pelas mãos ágeis de Michelangelo.

É, curioso. Só agora reparo que do seu corpo apenas guardei, na minha lembrança, um aspecto de contorno. Mais ou menos como uma figura executada com aqueles lápis de grafite 6B da Faber-Castell. Mas tenho possibilidade de afirmar com toda certeza de que era um bonito contorno, disso não tenho dúvida alguma.

Quando passou por mim com certeza contemplou o meu ar de assombro. A boca parcialmente aberta, os olhos muito salientes... Jesus, que triste imagem a minha. Entretanto, sorriu para mim. Um sorriso de pouca duração e de compreensão difícil. Será que ela sorriu pela triste imagem, ou foi outra a razão?

Agora permaneço novamente no jardim. E ontem também aqui permaneci. Permaneço sempre à expectativa. Sempre à esperança, a contemplar os girassóis. Ansiosa por contemplá-los a ir atrás daquela estrela. A estrela que não posso esquecer.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 16/01/2011
Código do texto: T2733364
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.