Reolhares

Queria elevar-se. Seus passos para o alto faziam com que até a pedra contra ela fosse tornada mais um degrau. Era a assertividade em pessoa, senhora de si. Aberta a todas as cores, fazia-se plena, afirmativamente significativa, robusta em saberes e fazeres, ciente de onde ser-estar, do que sentir e pensar. Transbordava-se, estendia-se aos outros, fazia escolhas, sempre elegia e dava-se à exclusividade daquilo que a preenchia de sentido, razão de existir. Dominava sempre mais a arte de elevar-se onde queria viver, ganhar mais intensidade e menos extensão. Fez olhos de ver. Alargou-os tanto quanto podia. Captou os outros, o mundo, a vida. Entregou-se ao olhar alheio como se a si mesma fisgasse num eu-lá-aqui-em-mim sem precedentes. Entregou-se à eleição de si, ainda que no outro, e amou-se à altura de sua dignidade, segura. Olhou nos olhos, sincera. Transmutou-se, autêntica. Assumiu-se, verdadeira. Integridade foi sua colheita. Inteirou-se coesa, centrada. Ganhou nome, identidade, subjetividade próprias. Criou projetos e degustou afetos. Despistou o ódio e aliciou o amor. Desejou, quis, realizou. Em seus olhos entraram o mundo e seus presentes. Viveu de verdade. Marcou. Surpreendeu-se quando as estrelas no céu estenderam-lhe a faixa: “Hoje o brilho é todo teu”.