A briga

Começou levando um pisão no pé e ele fez que não doeu. Um passo à frente e lhe veio o baita chute na canela. Dessa vez ele viu estrelas, sentou-se onde pôde, esperou a dor ir embora, abriu os olhos e se mandou. Chegou na cidade e se dirigiu ao barzinho para esquecer os hematomas. Escolheu a mesa afastada sob a árvore para ter tranqüilidade. Não assoviou ao garçom porque via grosseria no gesto, mas levantou a mão. O garçom não veio. Meia hora passada, e nada. Ele seguia lendo a revista semanal, coçando a canela doída e olhando o céu a escurecer para chuva forte. Novamente levantou a mão segurando a revista. O gerente viu que ele pedia atendimento, virou as costas e foi arrumar carteiras de cigarro anarquizadas por um funcionário novato do estabelecimento. Ele continuava a esperar. E já fazia quase uma hora. Até falou com a mocinha, mas ela se esquivou porque estava ali para limpar mesas, e não para servir. Sentindo-se um paciente dos serviços públicos de saúde, ele se levantou, foi à gerência e disse a absurda situação. Trovejou e choveu descontentamentos. Uma briga homérica foi o que provocou. Kafka passou a comandar o enredo e ele foi parar atrás das grades, onde mofou um longo período, lembrando-se de como seria bom se antes de toda a confusão ele tivesse ao menos tomado uma cervejinha.