A goiaba

Quatro dias vagando pelo interior daquele país. As casas naquele lugar eram muitas, mas não abrigavam mobília, nem pessoas. Pareciam pedras na beira da estrada, apenas ali, sem muita utilidade. Às vezes, para escapar da chuva, entravam em alguma delas. No resto do tempo, apenas andando, andando... Nunca saiam dali. Haviam riachos, água pura e abundante, mas não haviam peixes. Também não haviam outros animais por perto, nem árvores... Nenhum sinal de comida. Quatro dias sem comer nada, a fome aperta. No final do dia, exaustos, viram uma árvore, à beira de mais um dos riachos, era uma goiabeira. No galho mais alto, a última goiaba.

- É MINHA!

- ESTÁ LOUCO?! EU VI PRIMEIRO!

Os dois discutiram, argumentaram, um tentando provar ao outro ser o mais faminto. Quando as palavras falham, a atitude entra em cena. Um deles tira o revólver da cintura, atira. O outro é jogado para trás com intensa força. Bateu com o corpo na goiabeira. Do seu corpo, caiu sangue; da goiabeira, a última goiaba. Quando do galho ao chão chegou, rolou... rolou e entrou no riacho. Um passeio na correnteza.

- VOLTE AQUI!

O homem que restou, pulou na água. Era a última goiaba, só tinha aquela. Infelizmente, na ânsia causada pela fome, esqueceu do importante detalhe: Não sabia nadar.

O corpo ancorou a pouco menos de um quilômetro dali, preso em um troco que havia no riacho. Com suas últimas forças, viu que não era o único ali, a goiaba estava ao seu lado. Ele riu, mas era tarde demais. As forças lhe faltavam. Morreu.

A goiaba continuou ali. Ninguém ficou com ela. Talvez, se tivessem pensado em dividir...

Sapo
Enviado por Sapo em 04/01/2007
Reeditado em 05/01/2007
Código do texto: T336444