EU E OS CIGANOS - A DESPEDIDA



Eu estava no centro de uma roda formada pelos ciganos. Um a um entrava no circulo, dançando, vinha até mim, se despedindo... Fui abraçando e reverenciando a todos eles. Me sentia amada por aquela gente que, tão gentilmente, havia me acolhido!... A tribo somava-se entre mulheres e crianças mais de 40! Não conseguia parar de chorar! Mas era um choro resignado, passível diante do imutável... Por fim, foi minha vez de ir dançando até onde se encontrava a matriarca. Os olhos esverdeados de Dara brilhavam mais que o de costume, mas ela não chorava... Parei na sua frente, abri as rodas da minha saia formando um leque colorido, inclinei minha cabeça levemente em sinal de submissão e respeito e a abracei!... Um abraço tão forte como aquele que recebi em minha chegada, há quase um ano atrás.
- Dara... Eu te imploro, deixa-me ir com vocês!
- Outra vez?! Já conversamos tanto sobre isso, minha menina!... É preciso que você retome a sua própria estrada! Que se cumpra o seu destino!
- E como eu mudo "o meu destino"? O que preciso fazer?!
Dara me olhou nos olhos, com a mesma calma de sempre, com a mesma voz aveludada e com um sorriso no rosto...
- O destino não é mudado, apenas vivido! Com coragem e sem medo! Ensinando com o certo e aprendendo com o errado!... Tenha certeza, minha querida, que estou orgulhosa de você! Você chegou em pedaços e hoje está inteira! Você quis ser ajudada, você quis aprender e se saiu muito bem!... A alegria voltou para o seu espírito!
- Deixa eu aprender mais!...
Dara colocou sua mão sobre meu peito, meu coração batia muito forte!
- Te acalma!... Acalma os teus medos!... Não tema o teu futuro! Aqui você esteve segura e é essa segurança que vai levar contigo!
Novamente a abracei.
- E agora vá! A noite não tarda e também temos que partir! Não olhe para trás, sempre para frente, de cabeça erguida! Vá!...

Montei na Mel e olhei em volta. A carroças e charretes estavam cheias, haviam capim cinzento por todos os lados indicando o ponto onde antes estavam as tendas; todos me olhavam... Zaron estava com minha mochila, a mesma de quando havia chegado.
Sem olhar para trás e sem conversarmos no caminho, chegamos na parada do ônibus que vinha para o Rio de Janeiro. Abracei Zaron.
- Que se cumpra o seu destino, Loyane! Que os Espíritos da Natureza não lhe faltem!
Não conseguia falar! Apenas acenei com a cabeça.
Haviam algumas pessoas que já estravam no ônibus, algumas nos olhavam e percebi uma certa recriminação no olhar. Aquela era a "minha sociedade civilizada"! Preconceituosa, soberba e vazia!
- Adeus, Mel... Obrigada pela companhia! Nunca vou te esquecer!...
As lágrimas me voltaram aos olhos, Mel também chorava! Ela sabia!...
Entrei no ônibus, sentei-me no canto, ao lado da janela.
A paisagem começou a passar, lentamente... depois rápido! Pastos com rebanho... casas com chaminés dos fogões a lenha... árvores floridas... Agora, tudo era passado!... Tudo era mistério!... Assistia a tudo isso, enquanto lágrimas molhavam o meu rosto...
E quanto mais me distanciava, mais perto chegava da Hermínia e mais deixava Loyane no passado.
HERMÍNIA ROHEN
Enviado por HERMÍNIA ROHEN em 14/01/2012
Reeditado em 02/04/2012
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