Os suspiros intrincados de Elisa

Elisa, quando não consegue manter a capacidade de sustentar o seu corpo impelido por forças opostas, encontra-se em desarranjo consigo mesma através de lamúrias estonteantes e negações ao fato de que as desgraças causadoras do seu então desequilíbrio possuem a capacidade de tornarem-se sentimentos graciosos, após momentos reflexivos e vários xingamentos cuspidos ao léu. Mas hoje, diferente de todos os outros dias em que ela deixou-se perder por entre o desespero e a angústia de estabilizar-se para sempre como uma débil vagando dentro deste mundo caótico - que nos empurra goela adentro a loucura, apenas para que sejamos obrigados a secretar uma imagem perfeita e absoluta de nós mesmos, considerando que a verdade infinita não passa de uma mera mentira sem restrições - mas hoje Elisa acredita não haver o que a torna novamente sã sob a sua consciência de ser humana. Em meias palavras fatiadas, o amor pelo qual ela dedicava grande parte da sua vida reduziu-se ao estado de vapor, e, em um único suspiro, impregnou-se no ar e desapareceu deixando vestígios por todos os cantos do que a completa. O seu bisavô, isto é, o seu companheiro, a sua catedral de conforto, o seu confessionário e dentre outras designações que a menina adorava atribuir ao velho, morreu. De repente, sem mencionar partida ou baforar um adeus precipitado, ele se reteve à escuridão mortal - e à luz divina - para nunca mais afundar os seus pés calejados na terra, dando a liberdade à sua bisneta de criar-se sem muralhas que a protejam contra o mundo lhe proporcionando o sofrimento que a perda e falta de contato físico podem lhe causar ao corpo e à mente inquieta. O que Elisa não imaginou, no entanto, era que as tempestades tenebrosas das quais o seu cais decrepitado lhe preservava o arruinaria em pedaços, de modo que assim o seu velho, conseguinte a esta tragédia, personificou todos os ensinamentos que durante a sua trajetória carnal foram repassados à sua pequena, lhe dando como uma última prova de vida a sua própria lenta e inevitável morte, sendo esta, por fim, a origem de uma experiência domada pelos novos passos de Elisa frente à independência e ao fato de que, a partir de agora, é indiscutível a necessidade dela entregar-se à solidão junto ao mundo e a sua capacidade de lhe atingir novos amores que lhe atribuem conhecimento e realização pessoal.

NietzscheCywisnki
Enviado por NietzscheCywisnki em 19/08/2012
Reeditado em 19/08/2012
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