A grande família

"Onde será que ela se enfiou?"...

Escuta o som da caminhoneta e corre para a varanda.

- Onde esteve, mulher?

Ela desce do carro com alguns pacotes e responde:

- Olha, já que vamos passar um montão de tempo aqui nesse seu sítio maravilhoso, precisava me cercar de coisas urbanas, tá?

Ele dá uma espiada nas dezenas de sacolas de um supermercado distante uns oitenta quilometros e pára nas caixas de ovos.

-Para quê você comprou ovos? Criamos galinhas aqui, esqueceu?

Ela dá um suspiro e responde como se falasse para uma criança:

-Eu não entendo nada de ovos. E se tiverem pintinhos dentro?

Ovos fecundados e não simples óvulos? Não irei comer os filhos da Abby, da Accy e nem da Addy.

-Quem???

Pergunta um marido perplexo.

-Nossas galinhas, Abby, Accy e Addy! O galo é o Chico e aqueles franguinhos e franguinhas filhotes deles ainda não coloquei nomes...preciso pensar.

Falava e guardava as muitas coisas que comprara nos armários e na despensa.

-Você colocou nomes nas galinhas e no galo como pôs um nome no leitão e depois disse que não poderíamos comê-lo pois já era de casa, que iríamos criá-lo até a velhice e morte natural???

Ela então dá outra olhada para ele e procura uma sacola e mostra o conteúdo...

-Sabia que reclamaria, comprei vários pacotes de frangos já cortados,

sobrecoxas, coxas, meios da asa que você adora. Veja.

E completa:

-O Baconzito é muito fofo. Vamos arranjar uma namorada para ele?

Ele, o marido, ergue os olhos para os céus, bufa e não entende como uma mulher tão inteligente se transforma nessa criatura inimaginável quando está no sítio, e sai em direção à horta reclamando:

- Para quê um sítio se vou comer ovos e frangos congelados!?

Vou lá no laguinho de peixes e depois colher alguns temperos . Isso posso fazer não? , resmunga em tom irônico.

Ela, a querida e amada esposa, responde quase no mesmo tom

- Cebolinha e salsinha pode, mas não vou deixá-lo pescar a família do Nemo nem da Dolly...

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