A Oferenda

A Oferenda






Sábios de diversas esferas estavam em torno dela, minutos antes de seu nascimento. Eles assistiam com comoção, a importância desse instante.

Um deles disse:

- Que faça uso das palavras. Pouco importa que sua verve se torne polissilábica, acadêmica, incompreensível, ou apenas um pedaço de tudo o que existe. Palavras são necessárias.

Outro sábio, de modo muito lacônico, expressou apenas:

- Palavras são sempre complicadas.

Mais um sábio se aproximou, desejando:

- Que se olhe no espelho todos os dias e diga: você é uma oferenda.

A luz aumentava no ambiente e outros sábios iam entrando.

Um deles se inclinou, antes de desferir:

- O coração de um tolo não deve seguir uma cabeça avoada e um estomago vazio. Quanto a palavra, somente aquela que brilha pode ser notada.

Um grande sábio, talvez o de maior autoridade entre eles, disse de longe, sobre as oferendas:

- Vejo-as como uma grande confluência de entidades únicas começando a se deslocarem na mesma direção e ao mesmo tempo.

Um sábio menor, cuja fala parecia uma cantoria abafada, se espremeu entre os outros e, ao aproximar-se, disse:

- Existem pessoas fazendo coisas estúpidas, maliciosas, gananciosas? Com certeza. Vai te afetar? Hummmm, instrução detalhada, seqüência de letras apresentadas, nunca lhe será dada.

Vinham de todas as partes, de todas as dimensões, as dimensões possuem atributos diferentes, fronteiras conceituais variáveis.

Um sábio um tanto curvo, quiçá alquebrado pelo anos, sussurrou:

- Que tenha uma natureza inócua, centrada no coração e concentrada na alma.

Logo em seguida surgiu outro, dizendo:

- Que o seu anseio por amor seja preenchido gradativamente.

Foi quando entrou uma mulher de porte majestoso. Todos abriram espaço, formando uma espécie de corredor. Ela se aproximou da oferenda dizendo:

- Esqueça a idéia de que necessita aprender e escolha saltar ou não.
Tem que ser abraçada, a compreensão. Inexistem palavras no cosmo que possam restituir o que já te pertence.

Todos se calaram por um momento.

O grande sábio olhou ao redor e pronunciou:

- O mundo muda quando oferecemos e assim, centímetro a centímetro, movemos a linha de concordância.

Todos estavam apreensivos e um sábio de menor experiência, até então calado, indagou:

- O que estamos oferecendo?

No mesmo instante a mulher, de porte majestoso, silenciou a todos com seu verbo:

- Estamos oferecendo alguma coisa. Não se preocupem. A oferenda toma conta de si mesma.



(Imagem:  Miles Hebert)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 15/02/2014
Reeditado em 29/04/2021
Código do texto: T4692225
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