Artérias

Dentro de seu carro confortável, numa tarde quente de inverno seguia seu caminho. Dirigia quase que automaticamente... O som ligado alto. Um ritmo moderno no ar.

Na cabeça fervilhavam ideias que ao mesmo tempo que se aqueciam, logo se congelavam...Era um turbilhão de sentimentos que o assaltava naquele momento. Tudo estava em cheque: emoções, capacidade, aparência, vida profissional e financeira. Uma tremenda vontade de desistir, de deixar-se levar pela música de , com seu carro, cortar as artérias da grande cidade como quem corta os próprios pulsos e mesclar-se à confusão reinante do cenário apocalíptico de uma grande cidade, vista por uma pequena cabeça.

Olhos cansados de ver o que não mais interessa, boca cansada de sentir o gosto do talvez, ouvidos cansados de escutar as mesmas notícias, as mesmas vozes, mãos cansadas de procurar e não encontrar... Sentimentos tão negativos paralisavam seus olhos, seus lábios, seus ouvidos e mãos...

Tudo em volta brilhava como luzes esparsas e volúveis... Como uma festa para a qual não havia sido convidado.

Meteu-se pelas ruas mais obscuras. Fugiu do trânsito. Entrou em uma rodovia e em meio aos caminhões tomou seu discreto rumo.